Diagnosticada com câncer, costureira dá exemplo de superação na Corrida de Reis

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CAMARA VG

Quando decidiu se casar na capela do Hospital de Câncer de Mato Grosso, em setembro de 2017, Maria Vandelice de Souza tinha um objetivo: mostrar às pessoas à sua volta que o câncer não era, necessariamente, o fim da linha. No último domingo (7), ela correu pela primeira vez na Corrida da Reis, contrariando conselhos, e concluiu a prova com a mesma alegria e o mesmo intuito.

“No meu caso, quando eu estava muito mal, o que me fez animar foram as histórias de superação. Porque se você esta muito mal e chega alguém te falando  que alguém morreu daquele mesmo problema, você perde toda a vontade de viver. Pelo menos eu sou assim”, contou ao Olhar Conceito. “A vontade de fazer isso é mostrar para outras pessoas que mesmo a ciência dizendo que não tem cura, eu estou viva e posso estar bem, estar viva, competindo e trabalhando”.

Vandelice se casou na capela do Hospital de Câncer (Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito)

Vandelice foi diagnosticada em 2015 com mieloma múltiplo, um câncer de medula óssea muito raro. Desde então, começou o tratamento no Hospital de Câncer de Mato Grosso, fez uma cirurgia para retirar os tumores e chegou a ir para São Paulo receber um transplante de medula. No entanto, os médicos concluíram que ele não seria necessário, pois ela já estava bem.

“Não foi o médico que falou, mas por curiosidade, mexendo na internet, eu descobri, há quase três anos, eu li que eu tinha no máximo três anos de vida. O que você faz? Abre um buraco e enfia a cabeça. Só que depois eu parei em pensei, bom, se é pra conviver com isso, então que eu tenha coragem”, confidenciou ela, que é costureira e já trabalhou para a Daslu. “Eu tirei forças pra que eu ficasse sempre bem. E eu acredito que grande parte de tudo isso se dá em mudança de pensamento, de sentimento. Se a gente pensar que eu posso viver com isso, eu vou poder. Agora, se eu falar, não tem cura, realmente não vai ter cura”.

Apesar de estar bem, Vandelice tem consciência que seu câncer não tem cura, tem apenas tratamento. Por este motivo, também, sua médica aconselhou que ela não participasse da corrida. “Eu decidi correr na Corrida de Reis já tem algum tempo. Falei com a minha médica do Hospital de Câncer, e ela falou que não era prudente eu correr porque eu estava vindo de um tratamento de câncer de ossos, e a quimioterapia age muito nos ossos, que ficam um pouco mais debilitados”, lembra.

Mesmo assim, Vandelice procurou a personal trainer Franciane Bastos, que lhe deu quinze dias de treino de cortesia. “Ela embarcou na minha loucura. Pediu uns raios x pra dar uma olhada, e a gente começou com treinamento básico. Corria 30 segundos e caminhava cinco minutos no Parque das Águas”, lembra. “A personal me acompanhou durante 15 dias, e daí pra frente eu tive que seguir sozinha, porque Personal Trainer é muito caro, e quem vem de um tratamento desses não anda com tanto dinheiro disponível. E foi isso que eu fiz, eu segui toda a orientação que ela passou pra mim”.

No último domingo, às 7h30 da manhã, ela estava na linha de partida da Corrida de Reis. Completou os dez quilômetros mesmo com uma faringite, e debaixo de chuva, uma hora e 45 minutos depois. Afinal de contas, nada é impedimento para ela.

“Uma vez eu estava dopada em uma quimioterapia, falei para o Dr José Dias Rezende, meu médico da oncohematologia do Hospital de Câncer, que queria viajar. Ele falou: viajar? Você com problema de saúde desses vai querer viajar? Eu falei vou, ué! Você sabe o que eu fiz? Tomei a medicação, vi que ninguém ia aprovar eu querer viajar mesmo, e quatro dias depois peguei um avião e fui pro nordeste. E falei, se eu tiver que morrer, vou morrer feliz. E viajei. Eu acho que a gente é preso muito aos vínculos. Tudo bem que as vezes a gente está num tratamento e não pode se expor, mas eu também não posso deixar de viver sabendo que é uma doença que não tem cura. Nunca”. 

Olhar Direto.

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