Além do animal encontrado morto por febre amarela no Zoológico de São Paulo, a capital paulista já registrou, desde o ano passado, 105 óbitos de macacos em seu território, segundo balanço mais recente divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde.
Do total de vítimas, 101 foram encontradas na zona norte, em sete distritos diferentes: Anhanguera (2), Brasilândia (1), Cachoeirinha (1), Jaraguá (2), Mandaqui (62), Tremembé (26) e Tucuruvi (7). Outros três macacos morreram em Parelheiros e um, no Grajaú, ambos na zona sul da cidade.
Em todo o Estado já foram confirmadas 530 mortes de primatas não humanos desde julho de 2017, quase o triplo do registrado no mesmo período do ciclo 2016/2017, quando 187 animais morreram.
Caçada. Embora não transmitam a febre amarela, os macacos continuam sendo atacados no interior do de São Paulo. Ontem, a equipe do Parque Ecológico Municipal, em São Carlos, foi mobilizada para capturar um macaco-prego que estava sob ameaça de moradores. Enquanto algumas pessoas alimentavam e admiravam o primata, outras queriam vê-lo morto por medo da doença.
O veterinário Guilherme Marrara, diretor do parque, conta que a equipe decidiu pelo resgate para segurança do animal silvestre, depois de receber informações de que tinha gente atirando pedras no macaco-prego. “Quando estávamos lá tentando a captura, algumas pessoas ficaram bravas com o resgate, dizendo que tínhamos de matar o animal. Ficaram dizendo 'tem que matar, tem que matar' e foi muito difícil convencer de que o macaco não transmite a febre amarela, é tão vítima quanto a gente.” Como o macaco estava assustado, não foi possível a captura. “Deixamos uma armadilha montada no local e um funcionário tomando conta”, relatou.
Marrara disse que o macaco-prego apareceu na praça, bastante arborizada, há cerca de uma semana. “Pelas características, é possível perceber que ele foi domesticado. Acreditamos que era criado em cativeiro por alguém que o soltou, possivelmente por receio de febre amarela.” Além do ataque com pedras, o veterinário ouviu rumores sobre possível envenenamento do primata. “No parque, ele terá de ficar confinado, pois se tornou dependente da alimentação dada por humanos e já não saberia viver em ambiente selvagem.”
O número de macacos que chegam feridos ao Parque Ecológico de São Carlos aumentou desde o início dos registros de febre amarela no Estado, segundo Marrara. No ano passado, dos 13 espécimes levados ao local pela Polícia Ambiental, 10 tinham ferimentos que podem ter sido causados por ataques de pessoas. “Dois filhotes de macaco-prego chegaram bastante machucados. Em um dos casos, a mãe foi morta a pauladas e o filhote foi atingido por pauladas ou pedradas. Ele ainda tem problemas neurológicos causados pela agressão e vai passar o resto da vida abrigado.”
A maioria desses animais foi resgatada em cidades menores do entorno de São Carlos, com muitas áreas de mata, segundo o veterinário. No parque, mantido pela prefeitura, eles ficam em quarentena e passam por exames. Até agora nenhum deles apresentou o vírus, nem mesmo sintomas da doença. “Não foi encontrado nenhum animal com febre amarela na região, mesmo assim esses animais estão sendo caçados. É preciso entender que, se matam os macacos, não vamos saber se há vírus circulando na região”, disse Marrara.
Maltratar animais é crime ambiental e pode resultar em pena de seis meses a um ano de detenção, além de multa. De acordo com a Sociedade Brasileira de Primatologia (SBP), o Brasil está à beira de um desastre ambiental, com a mortandade de primatas da Mata Atlântica em função da intensa circulação do vírus da febre amarela. A situação é mais grave nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, já que, além da morte pela doença, acontece a matança de primatas pelo homem. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, de julho de 2016 a junho de 2017 foram confirmados 187 primatas não humanos com a doença no Estado. De julho passado até agora, o número subiu para 530.