Fonte: Olhar Juridico
O Serviço Nacional de Informações (SNI), criado com o objetivo de supervisionar e coordenar atividades no Brasil durante a ditadura militar, investigou com profundidade a vida de Júlio Campos entre os anos de 1983 e 1986, período em que o então membro do Partido Democrático Social (PDS) governou Mato Grosso. O político foi acusado de comprar fazendas e uma frota de 10 aviões logo nos primeiros meses no cargo. Há ainda acusação de compra de apoio do Poder Legislativo.
Atualmente Júlio Campos é filiado ao DEM, membro partido do governador Mauro Mendes e do presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Eduardo Botelho. O democrata já se lançou como pré-candidato ao senado na vaga deixada por Selma Arruda, ex-juíza cassada por irregularidades na campanha.
Em documento datado de 1984, o Serviço Nacional de Informações relatou a existência de “comentários generalizados” sobre a prática de corrupção na administração estadual. “Júlio Campos, mesmo antes de vencer as eleições para Governador, desfrutava de excelentes condições financeiras. Entretanto, correligionários do Governador mostram-se preocupados com a rápida ampliação do seu patrimônio após a sua posse”, afirma a agência de informação.
A SNI prossegue afirmando que o então governador comprou quatro fazendas, construiu um hotel de veraneio no rio Cuiabá, adquiriu uma choperia próxima ao aeroporto de Várzea Grande, assumiu o controle acionário da Televisão Brasil Oeste, começou a participar de um concessionária revendedora de veículos Ford e ainda adquiriu uma frota de 10 aviões.
O mesmo documento descreve que também são fortes informação de que o então governador pressionava o Poder Legislativo quando pretendia que suas mensagens fossem aprovadas, notadamente, as referentes a empréstimos externos e internos. Haveria até mesmo pagamento para compra de apoio. “Face às pressões do Governador, a bancada pedessista na Assembléia Legislativa (AL) adotou a estratégia de protelar, ao máximo, as votações que envolvem mensagens do Executivo, objetivando, assim, auferir vantagens pecuniárias”.
“Face á atuação administrativa do Governador Júlio José de Campos, e aos aspectos que envolvem a sua moral, boa parte da população mato-grossense já não mais acredita no Executivo Estadual”, finaliza o documento.
Documento datado de 1985 aponta que o SNI identificou possíveis proprietários e locais onde funcionavam cassinos clandestinos e bancas de apostas do jogo do bicho. Imóvel chamado de “Estância 21”, suposta propriedade de pessoa identificada como Osvaldo de Oliveira Fortes, comportaria um cassino pertencente ao então governador Julio Campos. O “testa de ferro” do local seria um comerciante residente em Dourados, Mato Grosso do Sul.
Os documentos que citam Júlio Campos estão disponíveis no Arquivo Nacional. O órgão, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública acolhe cerca de 220.000 microfichas que perfazem aproximadamente 9.000.000 de páginas armazenadas de dossiês produzidos e recebidos pelo antigo Serviço Nacional de Informações durante o período de 1964 a 1990.
A acusações presentes nos relatórios de inteligência não foram comprovadas pelo governo militar e muito menos geraram penalizações aos citados.
Outro lado
Júlio Campos Afirmou ao Olhar Jurídico que o cassino citado na documentação do governo militar pertencia a João Arcanjo Ribeiro, personagem conhecido em Mato Grosso por comandar o jogo do bicho durante décadas.
O político rebateu a afirmação sobre compra de quatro fazendas. Ele explicou que possui apenas uma propriedade na região de Poconé. Negou ainda a construção do hotel de veraneio e a compra da choperia próxima ao aeroporto de Várzea Grande. Segundo o ex-governador, basta revisitar seu histórico de imposto de renda.
Sobre o controle acionário da Televisão Brasil Oeste, Júlio Campos explicou que o negócio se deu de forma legal junto a empresário de Mato Grosso do Sul. O político disse ainda que possuía apenas um avião até o ano de 1998, data em que vendeu o bem.