Em um clima de tensão, os venezuelanos voltam às ruas na tarde desta quarta-feira (23) em Caracas para se manifestar contra ou a favor do governo do presidente Nicolás Maduro, que tomou posse para seu segundo mandato presidencial no último dia 10.
A capital amanheceu com a segurança reforçada. A polícia tomou pontos do centro e da região leste da capital. Na Praça Venezuela, no centro, centenas de guardas nacionais estavam posicionados com equipamento antimotim e caminhões blindados.
Venezuelanos voltam às ruas em uma grande marcha contra Maduro
Durante a madrugada, foram registrados protestos em 63 pontos de Caracas. Quatro pessoas morreram, de acordo com a agência France Presse, que cita balanços da polícia e do Observatório Venezuelano de Conflito Social (OVCS).
Um deles é Alixon Pizani, jovem de 16 anos, que morreu após ser baleado em um ato no bairro de Catia, de acordo com o OVCS.
Segundo a Associated Press, jovens fizeram barricadas e gritaram palavras de ordem contra o governo Maduro nesse bairro, que fica próximo ao palácio Miraflores (sede do governo). O deputado da oposição Juan Manuel Olivares afirmou que cinco pessoas foram baleadas e pelo menos uma estava em estado crítico. A informação não pôde ser confirmada pela agência.
As outras três mortes foram registradas no estado de Bolívar, no sul do país, segundo a AFP.
Moradora do bairro de Cotiza, em Caracas, mostra ferimentos causados por balas de borracha disparadas pela Guarda Nacional Bolivariana Venezuelana durante um protesto na terça-feira (22)
Os atos espontâneos ganharam força na última segunda-feira (21) após a revolta de um grupo de militares da Guarda Nacional Bolivariana, em Cotiza, um bairro pobre no norte da capital. A Força Armada do país prendeu 27 militares envolvidos na ação.
À agitação provocada pela rápida insurgência se somou uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, que é governista), que declarou "nulos" todos os atos aprovados pela Assembleia Nacional, de maioria opositora, desde 5 de janeiro.
A oposição venezuelana e diversos países – entre eles Brasil, Estados Unidos, Canadá e os membros do Grupo de Lima – não reconhecem a legitimidade do novo mandato de Maduro, que vai até 2025. A Organização dos Estados Americanos (OEA) também declarou, no dia da posse, que não reconhece mais o governo bolivariano.
Data simbólica
A oposição, sob liderança do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, escolheu o dia 23 de janeiro para um grande protesto contra Maduro porque nesta data, em 1958, o ditador venezuelano Marcos Pérez Jiménez deixou o poder.
Segundo a correspondente da GloboNews em Caracas, Eliana Jorge, o clima para os protestos desta tarde é de cautela por causa da forte repressão em bairros populares da capital na madrugada. Alguns colégios da capital não estão funcionando.
Os opositores sairão de 10 pontos e vão se encontrar no município Chacao, na região metropolitana de Caracas.
Do outro lado, os chavistas sairão de três pontos de Caracas em defesa de Maduro e contra a “ingerência estrangeira” no país. Eles estão sendo levados por ônibus fretados pelo governo, como informou a correspondente Eliana Jorge.
A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, afirmou que "o governo bolivariano está agindo” e será “muito rigoroso com as regras para evitar a perturbação da paz pública", de acordo com o jornal “El Universal”.
Rodríguez disse ainda que grupos terroristas financiados por setores extremistas da direita “optaram pelo caminho do golpe de Estado, desestabilização e pretendem retornar às páginas escuras da violência".
As duas marchas não correm o risco de se encontrar, mas os moradores de Caracas estão preocupados com o que pode acontecer ao longo do dia, segundo relato da RFI. Em 2017, violentos confrontos durante manifestações deixaram mais de 100 mortos no país.
Crise
A degradação da situação socioeconômica do país também motiva as manifestações, que antes eram isoladas e por motivos pontuais, como a falta de fornecimento de água ou de gás.
A população tenta sobreviver a uma hiperinflação, que neste ano deve chegar a 10 milhões por cento segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O aumento salarial de 400% anunciado por Nicolás Maduro fez com que os preços disparassem ainda mais. Muitos venezuelanos continuam fugindo do país como podem. Quem permanece se pergunta quando a situação irá melhorar.
Fonte: G1 Globo