Fonte: Olhar Direto
O Pantanal mato-grossense teve um aumento de 530% nos registros de queimadas no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados foram obtidos a partir de uma ferramenta interativa lançada nesta quinta-feira (23) pelo Instituto Centro de Vida (ICV) para o monitoramento dos focos de calor no estado durante o período de proibição de queimadas.
O painel será atualizado quinzenalmente com dados do satélite de referência disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até o fim do período proibitivo, em 30 de setembro.
Primeiro semestre
Segundo informações da assessoria de imprensa, de janeiro a junho de 2020, foram registrados 6.747 focos de calor no estado, um aumento de quase 300 focos em relação a 2019 (com 6.450) e que contabilizou um acréscimo significativo em relação a 2018, com 4.383 ocorrências.
As queimadas no primeiro semestre foram lideradas pela Amazônia, com 60,93%, seguida do Cerrado, com 30,95%, e do Pantanal com 8,12%. “O período seguiu o mesmo ritmo alarmante do ano passado, com um pequeno aumento, e as áreas queimadas no Pantanal contribuíram para isso”, avalia Vinícius Silgueiro, engenheiro florestal e coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, setor responsável pelo desenvolvimento do painel.
Pantanal em Risco
O painel mostra que o bioma Pantanal em Mato Grosso registrou um aumento de 530% nos focos de calor em relação ao mesmo período do ano anterior. De janeiro a junho, foram contabilizados 548 focos de calor no bioma. No mesmo período em 2019, foram contabilizados 87.
Dados do Inpe mostraram que o volume de chuvas em todo o bioma ficou 50% abaixo do normal no período de janeiro a maio, o que também colaborou para deixar o bioma mais suscetível aos incêndios.
Um destaque foi o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense, que passou de três para 99 ocorrências e figurou como a unidade de conservação com o maior índice de focos de calor no estado no semestre.
Vinícius explica a importância do monitoramento em unidades de conservação nacionais e terras indígenas.
“São áreas protegidas de responsabilidade federal e como os órgãos ambientais dessa instância vêm sendo enfraquecidos, esse monitoramento ajuda a alertar e orientar onde devem ser direcionados esforços emergenciais. É importante que as operações federais e as estaduais se articulem e somem em campo, não se sobreponham, então esses dados podem contribuir também para isso”, afirma.
O parque está localizado em Poconé, município do estado que lidera as queimadas no período, seguido por Nova Maringá, Feliz Natal, Paranatinga e Brasnorte.
Os imóveis privados com inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ainda respondem por 75% das ocorrências.
“Ver que um número significativo dos focos de calor está acontecendo em imóveis privados já inscritos no CAR é um indicativo de que é possível a identificação do proprietário e a responsabilização, bem como do desmatamento muitas vezes associado a essa queimada”, diz o engenheiro. Em geral, o corte raso da vegetação nativa é seguido do uso de fogo para o preparo do terreno para atividades agropecuárias.
Aumento mesmo com proibição
Nos 15 primeiros dias do mês em Mato Grosso, já com a proibição em vigor, foi detectado um aumento de 12% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 754 focos de calor registrados, um aumento de 80 focos em relação a 2019, que somou 674 focos.
Os dados detectam uma tendência de aumento para o período das queimadas, o especialista alerta, visto que estamos iniciando o auge do período de estiagem. “Com a antecipação do período proibitivo esperava-se um número menor nessa primeira quinzena”, diz.
Dos focos, 393 foram em imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR), seguido de 188 em terras indígenas. Os municípios que comandam a lista são Cáceres, Nova Maringá, Tangará da Serra e Luciara.
Vinícius explica que a iniciativa visa retratar a situação das queimadas de forma célere para que medidas efetivas possam ser tomadas para contenção. “Caracterizamos a ocorrência e isso fornece uma melhor compreensão da situação enquanto ela está acontecendo e assim, podem ser decididos direcionamento de esforços para uma região ou outra”, ressalta.