Caso Moinho: Advogada denuncia tentativa de obstrução de justiça e ameaça por homem que se diz intermediador

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Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto
ALMT TRANSPARENCIA

Olhar Direto

Após representar uma haitiana em uma ação no Ministério Público do Trabalho (MPT) contra a Padaria do Moinho, a advogada cuiabana Ana Affi denunciou ter sofrido ameaça velada, tentativa de extorsão e tentativa de obstrução de justiça por um homem que se apresentou como intermediador e disse falar em nome do proprietário da empresa. A advogada gravou toda a conversa e denunciou o caso ao Ministério Público do Trabalho, ao Ministério Público Federal e ao Tribunal Regional do Trabalho.

Olhar Jurídico teve acesso à denúncia e ao áudio, de cerca de 48 minutos, em que um homem, identificado como Juliano Jorge Boraczynski, chega para conversar com a advogada e afirma que está ali a pedido de Anésio Agnaldo Rodrigues Kokura, proprietário da Padaria do Moinho. No áudio, é possível ouvi-lo dizer que foi ‘prejudicado com o negócio do Olhar Direto’, referindo-se à matéria publicada pelo Olhar Jurídico no último dia 24 de junho (veja AQUI), e que o proprietário está disposto a fazer de tudo para que ela deixe o caso, “nem que gaste um milhão de reais”.

Juliano foi contatado pela reportagem e admitiu a conversa, afirmou que é amigo de infância de Anésio, mas que o mesmo não lhe pediu que fosse falar com Ana. “Eu fui conversar com ela sim, mas porque conheço os dois e queria apaziguar a situação. Mas eu não fiz ameaça nenhuma, ela está agindo de má fé ao dizer isso, e se está dizendo, terá que provar na justiça”.

A conversa faz referência ao caso divulgado pelo Olhar Jurídico, em que a haitiana denunciou a Padaria, empresa em que trabalhou por sete meses como atendente de caixa, por coação moral, injúria racial, assédio moral no trabalho e situação de trabalho análoga à escravidão.

No áudio que consta como prova da ameaça, Juliano ainda diz que o proprietário da padaria possuiria um vídeo ‘constrangedor’ de Ana Affi, em que ela pede R$ 6 mil ao empresário, e que se ela não aceitasse fazer o acordo, ele jogaria o tal vídeo na internet.

“O cara lá [Anésio] está com sangue nos olhos”, chega a dizer o intermediador. Ana responde que não quer conversar com o proprietário e que não tem nada a dizer para ele.

Na denúncia, a advogada afirma que “áudio, vídeo e WhatsApp poderão ser utilizados como meio de prova em direito admitidas, bem como todas as câmeras de monitoramento do condomínio onde o Sr. Juliano pediu para ser recebido”. Ela ainda alega ter sofrido tentativa de coação, ameaça e qie foi acusada de extorsão.

Além disso, Ana afirma, na denúncia, que soube que no mesmo dia desta conversa com Juliano, que o suposto vídeo da conversa entre ela e Anésio (ao qual Juliano fez referência) teria sido passado para os haitianos que ainda trabalham na Padaria.  “Como se essa subscritora estivesse praticando extorsão para prejudicar os estrangeiros, denegrindo a imagem dessa profissional com palavras de baixíssimo calão, como ‘esta vagabunda’”, alega.

Entenda o caso

O Olhar Conceito publicou, no dia 10 de junho deste ano, uma matéria com a haitiana, contando sua história e falando sobre seu sonho de ser modelo. A reportagem foi publicada no sábado, e, na segunda-feira, quando voltou ao trabalho, ela foi demitida da Padaria do Moinho, onde há sete meses era operadora de caixa.

Depois de ser demitida, segundo ela, à princípio com justa causa, ela procurou a advogada Ana Affi para tentar reverter a demissão para ‘sem justa causa’, e também para denunciar os abusos que ela – e outros haitianos – sofriam no local.

No dia 24 de junho de 2017, então, o Olhar Jurídico publicou uma matéria falando sobre a denúncia que a haitiana fez ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Dez dias depois, no dia 4 de julho, teria acontecido a conversa, à pedido de Juliano.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o proprietário da padaria afirmou que desconhece que tenha havido uma conversa, e que não quer ser envolvido em ‘confusão’. 

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