Muitas histórias de vida e um único sonho de poder enxergar melhor

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Reprodução
CAMARA VG

A maioria dos pacientes atendidos pela Caravana da Transformação aguarda há tempos por uma cirurgia oftalmológica. A ação do Governo é a esperança de poder enxergar melhor o mundo a sua volta. Seo Geraldo Scherette, 67 anos, morador de Pontes e Lacerda chegou cedo na cidade universitária de Cáceres, onde é realizada a 12ª edição do evento, para ser o primeiro a ser operado da fila dos prioritários. Apesar de agendadas, as cirurgias são por ordem de chegada.

Com voz mansa, de pouca conversa e acompanhado da esposa, seo Geraldo, que não enxerga nada do olho direito, era só expectativa. "De um olho não vejo nada, e o olho bom sofre por causa do outro que está ruim. Estou bem tranquilo para fazer essa cirurgia porque o que mais me motiva é saber que poderei enxergar bem de novo”, declarou o aposentado minutos antes do procedimento cirúrgico.

O problema da visão, segundo o paciente, piorou depois que ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) a cerca de dois anos. Ele também teve úlcera na perna. “São problemas que vão acumulando e a visão nessas horas faz muita falta. Graças a Deus que teve essa iniciativa da Caravana para nos ajudar”, disse, esboçando sorriso no rosto.

Morador de Cáceres, Antônio de Souza, 64 anos, foi outro que chegou cedo para ser o número um de uma fila de mais de 400 pessoas agendadas para o primeiro dia de cirurgias. Ele fará o procedimento nos dois olhos e ficou até surpreso com a notícia, achava que seria apenas de um olho. Nesta segunda-feira (26.02) será do olho direito e depois, ainda na Caravana, será do esquerdo. “Tenho muita dificuldade para enxergar de longe. De perto, tem que ser bem perto para eu poder ver. Recentemente tive conjuntivite e parece que a coisa piorou ainda mais. Mas o importante é que estamos aqui com essa oportunidade e vamos ficar bom”, disse ele ao contar que sua esposa também tem consulta agendada para a próxima quarta-feira.

“Minha maior dificuldade é colocar a linha na agulha. Não sou costureira, mas faço pequenos reparos do dia a dia e a visão me faz muita falta. Meu filho operou na Caravana de São José dos Quatro Marcos e foi tudo bem. Nunca operei do olho, mas agora não em outro jeito”, revelou Lurdes Martins Munhoz, 77 anos, enquanto aguardava sua vez.

A edição da Caravana em Cáceres beneficiará, além dos moradores da cidade, os de outros 18 municípios da região. Sendo que as cirurgias vão de 26 de fevereiro a 9 de março.

Dor e coragem

Aos 61 anos de idade, dona Maria Fátima Barbosa já não aguenta tanta dor pelo corpo. Mesmo assim ela já fez 10 cirurgias em diferentes partes do corpo e não está preocupada para operar os dois olhos durante a Caravana em Cáceres. Em um dos olhos ela já fez a cirurgia em Cuiabá, mas como está prejudicado terá que fazer novamente. A demora em conseguir uma cirurgia pode ter afetado ainda mais sua visão.

“Muito tempo esperando. Estou desde 2006 aguardando. Na época era uma carne no olho. E já consultei com diferentes médicos e diziam que não adiantava. Há pelo menos um ano e meio eu sei o que é sentir muita dor, até a cabeça me dói. Chorava muito com essas dores e pedia para minha filha para que não deixasse eu perder a vista. Ainda bem que vou operar hoje para ficar pronta para uma outra cirurgia que preciso fazer do quadril”, declarou com ares de felicidade.

As diversas cirurgias que realizou foram por conta de um acidente que sofreu em 2015. “Minhas mãos são todas retalhadas. Tomo remédios fortes depois do acidente, os nervos atrofiam, tenho ferro por todos os dedos”, disse mostrando a fragilidade dos membros.

Enquanto para Maria Fátima sobra coragem, falta para o aposentado Moacir Gonçalves de Oliveira, de 79 anos. Residente em Mirassol D’Oeste, ele precisa operar dos dois olhos e só não está livre da cirurgia porque desistiu dela em São José dos Quatro Marcos, oportunidade que teve na época em que a Caravana da Transformação passou por lá. Com apenas 5% da visão, a filha Maria de Fátima Gonçalves que o acompanha (apesar do nome, não é a mesma citada acima), diz ser o mesmo que nada, pois não resolve a situação.

“Lá em Quatro Marcos a cirurgia estava marcada e ele desistiu e quase desistiu aqui também, a família que não deixou. A dificuldade por não enxergar é imensa, ele praticamente não sai de casa e às vezes não reconhece os filhos, ontem mesmo aqui na consulta ele não me conheceu”, testemunhou a filha.

Diante de tanto medo, Moacir que também apresenta problemas de surdez, tem incertezas: “Espero que o nervosismo compense e eu volte a enxergar”.

Tanto para Maria como para Moacir, o importante é poder contar com o apoio da família. “Família é tudo, seja nas horas boas ou nas difíceis. Sem esse amparo a gente ficaria a mercê dos acontecimentos”, afirmam.

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