O cirurgião plástico cuiabano Olyntho Gonçalves avalia que a morte da bancária Lilian Calixto, após um procedimento estético no Rio de Janeiro, servirá para que as pessoas se conscientizem mais sobre a necessidade de buscar profissionais preparados.
Ele também condenou o uso indiscriminado do PMMA – sigla para polimetilmetacrilato -, produto aplicado em Lilian pelo médico carioca Denis Furtado, o que pode ter provocado sua morte.
“O produto é inabsorvível, ou seja, não é biodegradável. E ele pode causar desde um granuloma [inflamação] por fistulização do produto ou contaminação, e até culminar em uma embolia pulmonar, que provavelmente foi o caso da gerente Lilian Calixto. Mas quem dará essa certeza será somente a necropsia”, disse.
A SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) não recomenda o uso do produto para fins estéticos.
O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a SBCP já se manifestaram em 2006 sobre o assunto, condenando sua utilização indiscriminada. Em 2007, após ampla discussão, a Anvisa proibiu a manipulação da substância em farmácias.
O produto é aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas indicado em pequenas quantidades como tratamento reparador de lipodistrofia, ou seja, a redistribuição de gordura que pode causar alterações no rosto de pessoas com HIV/Aids. O reparo ajuda a reduzir o estigma contra o paciente.
Conforme o cirurgião, um dos únicos preenchimentos aprovados pela SBCP é o lipoenxerto, que é um enxerto de gordura utilizado na própria pessoa. "Nesse caso, a pessoa faz uma lipoaspiração e transfere a gordura de um lugar para outro do corpo. A outra forma é a prótese glútea, que se der problema, na pior das hipóteses, você retira”, explicou.
“Você não sabe que comportamento isso [PMMA] vai ter no futuro, porque são microesferas de acrílico. É incompatível com a biologia humana”, pontuou.
Lilian Calixto morreu na madrugada de domingo (15), após complicações decorrentes de um procedimento feito com o médico Denis Furtado, que não tinha autorização para praticar a Medicina no Estado.
Pesquisar é fundamental
Olyntho, que é formado pelo Instituto Ivo Pitanguy e pós-graduado pela PUC, ambos no Rio de Janeiro, ressaltou que pesquisar sobre o médico, antes de confiar a sua vida por um procedimento estético, não é uma opção, é uma obrigação.
“Quando acontece uma coisa mais séria como esta, as pessoas começam a olhar com outros olhos e realmente valorizar os profissionais que se prepararam para isso. A preparação de um cirurgião plástico não é fácil. São seis anos de Medicina, três de Cirurgia-Geral, três de Cirurgia Plástica e quatro provas dentro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, para você começar a ser chamado de cirurgião plástico. Dentro da Medicina, é uma das especialidades em que mais se estuda, porque estudamos desde o fio de cabelo até a unha do pé”, disse.
De acordo com o especialista, o primeiro passo para quem deseja fazer cirurgia plástica é pesquisar a respeito do médico no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Lilian Calixto morreu no domingo (15), no Rio de Janeiro, após complicações decorrentes de um procedimento estético
“Os procedimentos devem ser feitos em hospitais, exceto pequenos preenchimentos, como botox. E no hospital, o procedimento deve ser realizado com a presença de um anestesista na sala, todos os exames pré-operatórios prontos e feito por um especialista”, explicou.
Entenda o caso
A bancária saiu de Cuiabá rumo ao Rio de Janeiro para fazer um procedimento estético nos glúteos com Denis Furtado, conhecido como Dr. Bumbum. Ela foi atendida no apartamento do médico.
Conforme investigação conduzida pela Polícia Civil do Rio, foram introduzidos aproximadamente 300 ml de PMMA.
Após o procedimento, a bancária passou mal e foi levada em estado grave pelo médico para o Hospital Barra D’Or.
Lá, foram realizados procedimentos para recuperação de Lilian, no entanto ela acabou morrendo na madrugada do domingo (15).
O médico e a mãe – que teria o ajudado – são considerados foragidos desde o domingo, quando a Polícia Civil conseguiu na 1ª Vara Criminal do Rio de Janeiro uma ordem de prisão temporária (30 dias) contra os dois.
A Polícia da cidade carioca inclusive está oferecendo uma recompensa de R$ 1 mil por informações que levem ao paradeiro de Denis e sua mãe.
Fonte: Mídia News