Professor do IFMT cria projeto que distribui café da manhã para moradores de rua e cestas básicas

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Reprodução
CAMARA VG

Professor de filosofia no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Juliano Batista criou um projeto que distribui café da manhã para moradores em situação de rua, mães-solo e imigrantes, além da entrega de cestas básicas para pessoas vulneráveis. Por conta da pandemia do novo coronavírus, o café da manhã está temporariamente suspenso e o projeto tem focado na entrega das cestas.

O Café Solidário surgiu em 2017, durante o período em que o professor estava fazendo doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Antes da pandemia do novo coronavírus, sempre aos sábados, por volta das 7h da manhã, Juliano montava um café da manhã para moradores em situação de rua na Praça da República, em Cuiabá.

Posteriormente, em 2019, Juliano percebeu a necessidade de atender também pessoas desempregadas e imigrantes, mas em março de 2020 a ação precisou ser adaptada ao cenário pandêmico. O café da manhã se tornou uma espécie de kit de alimentos – pão, café, chá, leite, bolo, rosca – que eram entregues às pessoas assistidas pelo projeto, com o intuito de não causar aglomerações.

O número de pessoas que procuraram por Juliano em 2020 cresceu. “A pandemia aumentou a miséria. Em 2020, pela primeira vez, passaram a surgir crianças no Café Solidário. As crianças não moram nas ruas, mas as pessoas saem das periferias para comer no Café Solidário em razão das escolas estarem fechadas”, conta ao Olhar Conceito.

Ainda em 2020, o Café Solidário perdeu uma de suas colaboradoras para a covid-19, e com o aumento do número de casos de pessoas infectadas no Estado, Juliano decidiu focar na entrega de cestas básicas e suspender temporariamente a entrega de café aos moradores em situação de rua neste ano. Esta ação já era coordenada pelo projeto, dando assistência a mães-solo, idosos e imigrantes.

“Eu chamo de miséria invisível. Quando vamos em barracos, ali temos uma miséria visível, mas se pararmos para pensar, quantas casas de alvenaria, que são boas, tem pessoas que estão prestes a serem despejadas e vão para rua? Essas pessoas precisam de ajuda. Então surgiu a ideia das cestas básicas”, explica.

Juliano já presenciou diversas situações de vulnerabilidade. Nesta semana, ele doou alimentos, carrinho, berço e roupas para uma mãe-solo que teve um bebê prematuro. Quando a visitou, em Rondonópolis (a 217 km de Cuiabá), viu a cena da avó do bebê fervendo leite azedo para adoçar. “Não se surpreenda com isso. Não é difícil chegarmos nos lugares e ver a mãe colocando açúcar na água para substituir o leite”, exemplifica.

Um dos principais problemas enfrentados na montagem das cestas é o valor dos alimentos. Juliano relata que começou a ação pagando cerca de R$ 60 por cesta, mas atualmente o valor quase triplicou. Por este motivo, Juliano prefere que as pessoas interessadas em contribuir com o projeto comprem os alimentos e entreguem a ele. Toda doação é válida – inclusive de dinheiro em espécie -, mas ele acredita que desta forma as pessoas conseguem enxergar que determinados valores não são suficientes.

“Existe uma incompatibilidade. O número de pessoas necessitadas aumentou e as doações caíram, não são como antes. A dificuldade também chegou na casa dos colaboradores”, conta. Atualmente, o projeto se tornou muito mais familiar, com ele, esposa e outros parentes se mobilizando para fazer com que as doações sejam feitas. Por este motivo, ele intensificou a divulgação das ações nas redes sociais para motivar outras pessoas a contribuírem.

“É necessário desconstruir o mito de que solidariedade não deve ser publicizada. Esquece isso. A solidariedade deve ser publicizada. O que não deve acontecer é a pessoa usar isso em benefício próprio. Não é o Juliano que faz as ações, é o Café Solidário. Não sou somente eu, são várias pessoas. Eu costumo dizer que sou a centelha que acende a chama das pessoas. No fundo, as coisas só acontecem porque as pessoas nos ajudam”, explica.

 

Fonte: Olhar Direto – José Lucas Salvani

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