Fogo subterrâneo em área de difícil acesso dificulta ação dos bombeiros e coloca Pantanal em risco novamente

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ALMT TRANSPARENCIA

O Corpo de Bombeiros tenta conter incêndios subterrâneos na Terra Indígena Baia do Guató, em Barão de Melgaço, a cerca de 110 quilômetros de Poconé, que estão acontecendo há alguns dias. Os agentes encontram dificuldades pois não é possível chegar ao local via terrestre e um helicóptero deve ser usado na operação.

Este é o segundo episódio com fogo na Baia do Guató em menos de um mês. No dia 5, as chamas destruíram 360 hectares ou cerca de 3,6 km, segundo satélites da Nasa que podem ser analisados pela plataforma Firms (traduzido do inglês para Sistema de Informação de Incêndio para Gerenciamento de Recursos).

Por se tratar de uma área alagada, os bombeiros contaram com apoio de uma aeronave do Sesc Pantanal. No dia seguinte, pela manhã, eles sobrevoaram a área e verificaram que o fogo apagou sozinho por conta da umidade da vegetação.

“Toda região alagada no Pantanal cria camadas de turfas, um carvão primário. São vegetações compactadas justamente por alagar a região. As vegetações se compactam no solo e possibilitam a existência de incêndios subterrâneos. Por mais que não existisse mais fogo na superfície, aquela região queimava como brasa”, explicou o tenente Thiago, comandante do Pelotão Independente Bombeiro Militar de Poconé.

Entretanto, na semana passada, moradores da região relataram que em determinado período do dia, o incêndio voltava a ter chamas vivas. Diante disso, os bombeiros voltaram a tentar acesso terrestre, o que facilitaria o combate mais eficiente, segundo relatou comandante.

“Eles [bombeiros] não conseguiram, a gente fez sobrevoo de drones desde sábado, não conseguimos encontrar acesso, mas conseguimos mapear alguns pontos que poderiam ser perigosos do incêndio”, acrescentou.

Na tarde desta quinta-feira (22), o incêndio deixou de ser subterrâneo e passou para a superfície por ser um período de calor e com umidade relativa do ar baixa. Nesta sexta-feira, oito bombeiros tentam conter as chamas com ajuda de um helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer).

Os militares também continuam no mapeamento para tentar conter os incêndios subterrâneos. “Eles são extremamente difíceis de serem contidos. Para contê-los é preciso cavar valas de dois metros de profundidade e alagar a região com água. Se a operação for durar mais um dia, os bombeiros irão mapear os pontos críticos dos incêndios subterrâneos”, pontuou.

Conforme o major do Corpo de Bombeiros, Rafael Ribeiro Marcondes, houve uma redução de focos em comparação ao ano passado. Em relação às propriedades rurais, existem três motivos básicos. A primeira delas é a falta de material combustível, já que a biomassa foi toda consumida no ano passado.

Desde o começo do ano, os Bombeiros, junto com o Sindicato Rural de Poconé, Guardiões do Pantanal e demais organizações civis da região iniciaram a qualificação de moradores para lidar com o fogo.

Além de capacitar as pessoas para agir em ocorrência, os trabalhos auxiliaram a comunicação entre os envolvidos no combate às chamas.

“Muitos lugares são de difícil acesso e as equipes demoram a chegar. Então, com a descentralização, tanto a comunicação como a ação são mais imediatas, evitando a expansão das chamas”, afirmou.

O presidente do Sindicato Rural de Poconé e membro do Guardiões do Pantanal, Raul dos Santos, explica que a comunidade está mobilizada diante do problema. Participou dos cursos e está atuante diante das políticas de prevenção.

Na avaliação dele, muitos pontos avançaram este ano, como o treinamento dos brigadistas, porém há muito o que fazer. Entre as reivindicações locais está a melhoria das infraestruturas, principalmente as estradas boiadeiras e as pistas de pousos, bem como a construção de poços e represas para que as equipes não precisem se deslocar por grandes áreas para abastecerem os carros-pipa.

Existe ainda uma preocupação latente que são as fazendas abandonadas. Nas áreas, não são realizadas as ações preventivas, como a construção de aceiros e nem sequer a manutenção do acesso. Os pontos foram um dos obstáculos enfrentados no ano passado, quando o bioma Pantanal teve 23 mil km quadrados consumidos pelo fogo.

Quem são os Guardiões

Os Guardiões do Pantanal são um grupo formado por integrantes das cadeias produtivas do Pantanal Mato-grossense. Eles se uniram após o desastre ambiental das queimadas, vivido em 2020, e pretendem realizar e apoiar ações que contemplem o desenvolvimento sustentável da região e a valorização da cultura pantaneira.

Também irão acompanhar e cobrar mudanças na legislação e a implantação dos projetos de infraestrutura que auxiliem a sobrevivência e evitem que a região seja consumida pelo fogo.

Fonte: Olhar Direto

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