O preço da gasolina comum já ultrapassa a casa dos R$ 6 em alguns postos de combustível da capital mato-grossense. Há pouco mais de um mês, a Petrobrás apresentou o aumento de 6,3% na gasolina e 15,2% no diesel. Em Cuiabá, motoristas reclamam dos impactos da oscilação nos preços e defendem que o Governo Federal deveria rever a política de preços da empresa, que atualmente é pautada pela oscilação do preço do dólar.
“Isso impacta fortemente no nosso dia-a-dia, no nosso ir e vir. Sem contar que a gente tem que ir garimpando [procurando] o preço mais baixo. Onde tem eu já coloco, não fico esperando pra subir demais porque isso impacta bastante”, conta ao Agro Olhar Carmen Pedrangelo, 62 anos, motoristas que abastece na cidade.
O preço médio da gasolina e do etanol em Cuiabá é de, respectivamente, R$ 5,87 e R$ 3,93. Isto conforme os dados do Sistema de Levantamento de Preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Uma pesquisa realizada pela reportagem em três pontos da região metropolitana da cidade, porém, apontam valores maiores.
Entre os postos visitados, o Etanol, por exemplo, oscilou entre R$ 3,87 e R$ 4,29. A observação feita no preço da gasolina, por sua vez, constatou que esta chegou a custar o preço de R$ 6. O menor valor encontrado foi o de R$ 5,77.
“Eu acho um absurdo porque Mato Grosso é exportador de álcool. Eu acharia que o governo deveria rever essa política de preços. Frequentemente tenho diminuído o uso do carro, só uso realmente pra trabalhar, [saída de lazer] diminuiu totalmente”, conta Jean Carlos, 47 anos, outro motorista, ao reclamar dos prejuízos causados pelos consecutivos aumentos no combustível.
A afirmação é complementada por Renan Henrique*, 54 anos, outro condutor que frequentemente abastece o seu carro em um posto localizado na capital. Para ele, uma política de preços pautada no mercado internacional ignora a diferença entre a renda do Brasil com a de outros países, com economia mais estável, ao definir preços iguais com base no dólar.
“Ela é efetiva se for uma acionista da Petrobras, porque esse valor de preço que a gente paga aqui, vai para a Petrobras distribuir o lucro entre os acionistas. Se você é um acionista grande da Petrobras você deve tá muito feliz, mas o consumidor não porque nós que estamos pagando esse lucro absurdo dos acionistas”, completou.
Polícia de preços da Petrobras
O economista Fernando Henrique da Conceição Dias, mestrando em Economia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), explicou ao Olhar Direto no que consiste os aumentos consecutivos no preço do combustível. Segundo ele, para entender esse fator, é preciso compreender a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobras. Nesse sistema, a companhia se pauta no mercado internacional para salvaguardar acionistas estrangeiros.
“Os preços internacionais acabam interferindo na nossa economia doméstica, justamente por causa da globalização financeira. É bem complicado, porque você tem um PIB [Produto Interno Bruto] e um IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] com números muito ruins, o custo de vida do brasileiro perdeu poder e o real está se corroendo. Quando o dólar está alto, a tendência é que a economia doméstica sofra muito com isso. A gente está, infelizmente, com o dólar que já chegou a quase seis reais”, explica Dias.
Sobre o papel do Governo, o pesquisador explica que apesar da tentativa de diminuir a inflação através da alta do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), a medida é tímida e não tem tido sucesso. Ele cita ainda a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar, diante, entre outras coisas, da desconfiança do plano de recuperação fiscal brasileiro e grande preocupação com o caminho contrário adotado pelo país em relação a governança climática sustentável, que, segundo ele, fazem com que o Brasil seja mal visto.
“O que precisa ser feito é: a gente precisa fazer a lição da economia doméstica, que não está sendo feita. E a gente só faz isso com uma política de cunho social, uma política de distribuição de renda, de crédito, de custo social. Porém, isso não está ocorrendo, porque a gente está em pandemia, tem o auxílio emergencial, o índice de desemprego aumentou, a gente não está conseguindo ter força de produtividade”, finaliza.
Fonte: Olhar Agro & Negócios