Guerra híbrida nas eleições: uma realidade brasileira?

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CAMARA VG

Guerra híbrida é uma estratégia militar que mescla táticas de guerra política, guerra convencional, guerra irregular e ciberguerra com outros métodos não ortodoxos, como a desinformação, lawfare e a intervenção eleitoral externa (disparos em massa por robôs é um exemplo desse último).

A expressão guerra híbrida está presente em três obras contemporâneas que li entre o final do ano passado e o começo de 2022: Geopolítica da Intervenção – A verdadeira história da Lava Jato”, de autoria do excelente criminalista Fernando Augusto Fernandes; “Minha especialidade é matar”, do filósofo Henry Bugalho; e “Enxame”, do jornalista e advogado Marcos Limão.

A “guerra híbrida” se desenvolve em duas etapas: a primeira, conhecida como “Revolução Colorida” e a segunda, denominada de “Guerra não convencional”.

O que importa e interliga os três livros citados acima é a primeira etapa, ou seja, a “Revolução Colorida”. O termo “colorida” tem a ver com a utilização de cores para notabilizar e simbolizar o movimento, como a utilização do verde e amarelo, entre 2015 e 2018, que resultou no impeachment da Presidente Dilma e na eleição de Bolsonaro.

Marcos Limão aponta que a “Revolução Colorida” representa a “versão não violenta da intervenção militar e consubstancia-se na companha informacional (ofensiva cognitiva) que visa desestabilizar a ordem política, colocando a população contra o governo e os centros de poder”.

A gênese da ruptura que resultou na eleição de Bolsonaro, um político do baixo clero, ligado ao regime militar e idólatra de torturadores, foi a “guerra híbrida” retratada com maestria no livro “Geopolítica da Intervenção”. A Lava Jato, comandada por Sérgio Moro e os meninos da procuradoria da república de Curitiba, utilizou a torto e a direito a desinformação e o lawfare, com o propósito firme de deslegitimar o governo Dilma e possibilitar a ruptura política.

Dois episódios são evidentes dessa prática: a divulgação ilegal e seletiva da conversa interceptada entre a Presidente Dilma e o ex-presidente e a divulgação de trechos da delação de Palocci. A primeira culminou no impeachment de Dilma e o segundo na vitória de Bolsonaro, pois em ambos os casos foi gerado um sentimento de repulsa ao PT. Mas isso só foi possível pela utilização de disparos em massa das informações falsas, que alcançaram alvos (pessoas) vulneráveis e suscetíveis a serem manipulados.

Na obra “Minha especialidade é matar”, título extraído de uma fala de Bolsonaro, Henry Bugalho descreve com maestria o comportamento da extrema-direita brasileira. Os textos, originalmente publicados na Folha de São Paulo e na revista Carta Capital, deixam claras as estratégias de manipulação da informação do “exército bolsonarista”.

São criadas mensagens, como regra, com conteúdo falso ou deturpado, e disparadas nos milhares de grupos formados por pessoas cooptadas na internet e que comungam da mesma ideologia. Por serem pessoas vulneráveis e suscetíveis ao discurso disruptiva, a mensagem consegue alcançar o perigoso “consenso”, primeiro passo para uma grande revolta, tal como ocorrem nas guerras religiosas (por exemplo, utilização de homens-bomba).

Uma amostra clara do poder de manipulação do exército bolsonarista ocorreu no dia 7 de setembro de 2021. Nessa oportunidade Brasília foi literalmente invadida por cegos apoiadores do governo Bolsonaro, que tinham o firme propósito de romper com as instituições de estado. Essa gigantesca manifestação de apoio aos ideias extremistas de Bolsonaro, que tinha como objetivo a invasão do STF e do Congresso Nacional, foi totalmente planejada e posta em prática nos grupos de WhatsApp e Telegram. Pessoas do Brasil inteiro se deslocaram em caravanas para colocarem
em prática a intenção de aniquilar com o regime democrático brasileiro.

O poder do exército bolsonarista não pode ser subjugado, especialmente em um ano de eleições presidenciais, que caminham a passos largos para a derrota governista. Serão postas em prática táticas de guerra híbrida extremamente agressivas, muitas mentiras e destruição de reputações acontecerão. Será que a justiça eleitoral estará preparada para coibir esses abusos? Teremos eleições limpas ou recheadas de fake news? Oxalá tenhamos um certame em que a democracia vença e o Brasil retome seu ciclo de crescimento e respeito internacional!

*Marcelo Aith é advogado, Latin Legum Magister (LL.M) em Direito Penal Econômico pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa – IDP, especialista em Blanqueo de Capitales pela Universidade de Salamanca e professor convidado da Escola Paulista de Direito

 

Fonte: Gazeta Digital

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