São Paulo, Brasil
Síndrome de Peter Pan.
Desvio comportamental diagnosticado e difundido no mundo pelo psicólogo americano Dan Kiley, no livro que escreveu em 1983.
Ele detalha em alguns homens comportamentos infantis. A insegurança os impede de amadurecer normalmente. E simplesmente se apegam a comportamentos e atitudes adolescentes.
O distúrbio é associado ao personagem criado pelo escocês James Matthew Barrie, que “vivia” em um universo paralelo chamado “Terra do Nunca”, para onde foi adolescente e jamais envelheceu.
Nenhum personagem do futebol deste país pentacampeão do mundo encarna tão bem esse comportamento.
Neymar da Silva Santos Júnior assume, com orgulho, a negação à vida adulta.
Hoje, sábado, dia 5 de fevereiro, o melhor jogador dos últimos 20 anos faz 30 anos.
E qual o primeiro presente que recebe e exibe com orgulho nas suas redes sociais, que atingem mais de 230 milhões de pessoas?
A máscara de Batman, personagem da história em quadrinhos que tem tatuado no lado direito das suas costas.
Do lado esquerdo, está tatuado o Homem-Aranha.
Aos 30 anos, ninguém pode ser chamado de “menino”. Nem aos 20, já que aos 19 anos foi pai. Nem aos 25, 26, 27, 28, 29.
Mas “Menino Ney” é o apelido que o mundo do futebol escolheu como licença poética para aceitar as travessuras de quem age como um adolescente. Justo o jogador que carrega a esperança da acabar com 20 anos de jejum, sem títulos mundiais, que acabou com o orgulho da atividade que era a de mais sucesso, despertava inveja deste país tropical.
Neymar também tatuou a palavra “abençoado” na pele.
Com razão.
Desde menino, com o apoio obsessivo do pai, jogador frustrado, desenvolveu o talento fabuloso para jogar futebol. Com todas as qualidades com a bola nos pés para ser o melhor do mundo. Várias vezes.
Não fosse jogado à Terra do Nunca pelo próprio pai/empresário.
Nela, Neymar é Peter Pan cercado de seus “parças”, amigos que decidiram ter como missão na vida desfrutar do reino do privilegiado “Juninho”, de Mogi das Cruzes. E o acompanham pelo mundo, com regalias que jamais teriam, vindas do patrimônio quase bilionário do Menino Ney.
O que fizeram por anos e anos os “parças” de Neymar? O aplaudirem, o incentivarem e o defenderem, mesmo nas inúmeras vezes que esteve errado ou questionado.
Como fazem seus centenas de milhões de seguidores.
Os que têm coragem de tentar cobrá-lo são banidos das redes.
Neymar tem funcionários que “limpam” as mensagens a serem expostas.
As críticas somem.
Assim como os críticos.
O que só faz aumentar, até para ele, a sensação de que tudo que faz está correto.
Como quando jogou a final do Mundial de 2011, pelo Santos, contra o Barcelona, com o seu pai escondendo, negando que tinha um acordo de ida para o clube espanhol.
Ou quando virou as costas para o Barcelona, fechando contrato com o PSG, aceitando que a bilionária família real do Catar pagasse sua multa rescisória, a maior de todos os tempos no futebol: 222 milhões de euros, R$ 1,3 bilhão.
Ao rolar, como um péssimo ator, nos gramados da Rússia. Virando piada mundial por suas simulações.
Dançando na Bahia “até o chão”, com o pé direito ainda com uma bota anatômica para protegê-lo de uma fratura.
Ou aparecendo em um vídeo tomando tapas na cara de Nagila Trindade, modelo que conheceu na internet e levou para Paris, pensando em uma noite de amor, e acabou sendo acusado de estupro.
Além do enigmático final de contrato de anos com a Nike, com acusação grave de uma funcionária.
Nunca houve censura ou cobrança pública do seu pai/empresário, da sua família, dos seus “parças”, dos parceiros famosos de balada, das “ficantes”. E são eles que importam para Neymar.
Mano Menezes foi o único treinador da seleção a levantar a voz, cobrar o atacante. Mas logo perdeu o emprego.
Felipão, Dunga e Tite optaram por se calar, não se voltar contra o único protagonista em uma geração de jogadores coadjuvantes. Até nisso, o Menino Ney foi privilegiado. Jamais, em tempo algum, houve na seleção brasileira um só talento. Se existia Pelé, havia Didi e Garrincha, em 1958. Em 1962, o “anjo de pernas tortas” assumiu seu lugar, depois da contusão do “rei” contra a então Tchecoslováquia, na segunda partida do Mundial. Em 1970, Rivellino, Gerson, Tostão, Carlos Alberto Torres, Jairzinho dividiram o mérito de melhor equipe de todos os tempos.
Agora, não.
O Brasil é dependente de um homem de 30 anos que tem atitudes de adolescente. Que só quer saber de treinar, jogar futebol. E farrear. Jogar pôquer.
O organismo não quer saber se para ele as noitadas são “nas suas folgas e férias”. Com a permissão do pai, que montou a sua Terra do Nunca, farras e mais farras que são cruéis. Apressam o envelhecimento das células, do sistema respiratório, da explosão muscular. E um décimo de segundo conta muito hoje no futebol mais intenso jogado desde que foi criado no fim do século 19, na Inglaterra.
Por isso, Neymar não foi escolhido como melhor do mundo.
Dedicação à carreira não é só treinar e jogar. É se poupar. O brasileiro pertence à elite das elites dos esportistas do mundo. Tem tudo à disposição. A melhor nutrição. Os mais modernos suplementos, aparelhos de ginástica. Conta com fisiologistas. Especialistas em biomecânica, que analisam seus movimentos. Aprimoram corrida, chutes, cabeceios.
Tem seu preparador físico particular, além daqueles que trabalham no PSG.
Fora o exemplo de seu grande amigo que não segue.
Lionel Messi.
As sete vezes que o argentino foi escolhido o melhor do mundo não ensinaram nada a Neymar.
Com a cumplicidade de seu pai/empresário, o agora homem de 30 anos optou por sua Terra do Nunca.
Está feliz.
Seu legado será o de um excepcional jogador.
Mas enorme desperdício, que poderia ir muito além como atleta.
Vem decepcionando o país do futebol desde 2010, quando vestiu, pela primeira vez, a camisa da seleção brasileira, com o discurso de que lutaria pela reconquista do Mundial.
Frustrou também o PSG, que apostou como jamais nenhum clube em que ele fosse o principal personagem na conquista da Champions League.
Mas, aos 30 anos, o quase bilionário Neymar está entusiasmado.
Mostrando seu presente especial.
A máscara de Batman, que “recebeu” do ator Robert Pattinson, em uma ação descarada de marketing do filme. Ele lembrou às centenas de milhões de seguidores do brasileiro que o filme será lançado em março.
Mas o camisa 10 da seleção não quer saber de ações de marketing, dinheiro.
Fica tudo por conta do seu pai.
Neymar quer saber é da festa de hoje.
Mais uma entre os milhares que já teve na carreira.
Com a presença, lógico, dos parças.
Deveria ser especial, já que é a que celebra 30 anos.
Mas não será.
Porque ele decidiu não envelhecer.
Um brinde ao Menino Ney, prisioneiro da Terra do Nunca…
Por Cosme Rímoli
Fonte: R7