Acontecendo há milhares de anos, a evolução humana ainda não parou. Nos últimos anos, foram identificados novos ossos, músculos, veias e artérias, que não estavam presentes há algumas gerações e mostram que o corpo ainda muda para se adaptar à vida cotidiana.
A mais nova descoberta aponta para uma transformação na maneira como percebemos o odor: os cientistas acreditam que, lentamente, ao longo de séculos, fomos diminuindo a capacidade de diferenciar os cheiros.
Pesquisadores do Instituto de Nutrição e Saúde de Xangai, na China, convocaram mil pessoas da etnia Han e 364 indivíduos de etnias diversas que moram em Nova York, nos Estados Unidos, para cheirar 10 fragrâncias. Duas amostras eram de Galazolide, um odor sintético que é percebido por algumas pessoas e ignorado por outras e está associado aos cheiros corporais — o objetivo era determinar quais genes estão ligados à percepção do aroma e como atuam.
Os participantes preencheram um ranking que media a intensidade e quão agradável era o odor. O levantamento identificou dois novos receptores olfativos, um que sente o Galazolide e outro que percebe o 3M2H, um outro composto químico presente no odor corporal.
A partir dos resultados, a equipe decidiu, em uma segunda fase do estudo, analisar outras 27 mutações genéticas que estão relacionadas ao odor e fazer uma comparação entre a idade evolutiva (quando cada mutação entrou no genoma) e se elas deixaram os receptores mais ou menos sensíveis aos cheiros ao longo do tempo.
“Resumindo toda a variação genética publicada que se associa à percepção de odor, descobrimos que indivíduos com versões ancestrais dos receptores tendem a classificar o odor correspondente como mais intenso”, escrevem os cientistas no estudo publicado na revista científica Plos Genetics em 3/2.
De acordo com os pesquisadores, os resultados se alinham à hipótese de que o repertório de genes olfativos de primatas diminui ao longo do tempo.
Não há consenso
A teoria que o olfato teria se enfraquecido ao longo da evolução humana ainda é bastante debatida na comunidade científica. Alguns pesquisadores acreditam que, quando a visão se tornou o sentido dominante, o olfato ficou em segundo plano.
A principal evidência para suportar essa hipótese é que outros mamíferos têm centenas de genes olfativos a mais do que os humanos, e a metade dos que nós ainda temos não funciona.
Em contrapartida, outra corrente de cientistas acredita que o olfato humano não é tão ruim assim, e mesmo com genes a menos, somos melhores em diferenciar odores.