Sabia que ele batia, tentamos levar ela embora várias vezes”, lamenta filho de mulher morta em VG

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CAMARA VG

Alguns minutos depois do corpo de Genésia Maria Pereira, de 52 anos, ser levado pela Politec, um dos oito filhos da vítima de feminicídio abraça o irmão e pede perdão por não ter conseguido ajudar a mãe antes da tragédia. A aposentada, que fazia doces para sobreviver, foi morta com um tiro de espingarda de pressão disparado pelo marido na manhã desta segunda-feira (26), no bairro 15 de Maio, em Várzea GrandeNa frente da casa onde a mãe morava com o marido e a filha de 32 anos, que tem síndrome de Down, João Maria Quibim afirma que sabia que a mãe estava vivendo em situação de violência doméstica, mas Genésia se recusava a terminar o casamento de pouco mais de quatro anos.

“Não vou mentir, senão não vou estar sendo homem. Nós [ele e os irmãos] sabíamos que ele [Leodir] batia nela. Já tentamos vir aqui várias vezes para levar ela embora, mas ela não queria”.

Ajoelhados na frente da casa, ele e um dos oito irmãos assistiram o corpo de Genésia ser retirado da casa pela Politec. Enquanto mostra uma foto da mãe do celular, João repara que, provavelmente, ela estava com o olho inchado por conta das agressões do marido.

“Olha aqui, amor. O olho dela estava inchado, ele tinha batido nela antes dessa foto”, lamenta para a esposa, grávida de nove meses enquanto aponta para a foto.

Depois de cometer o crime, Leodir ainda ficou dentro da casa por algumas horas antes de fugir de bicicleta. Ele foi encontrado por um dos filhos de Genésia no bairro Vitória Régia, perto do local do feminicídio. O suspeito foi atropelado, além de ter sido agredido com golpes na cabeça e facadas espalhada pelo corpo.

As manchas de sangue ficaram marcadas na estrada de terra e o local foi periciado pela Politec. Leodir foi socorrido em estado grave e levado para o Pronto Socorro Municipal de Várzea Grande, onde permanece internado.

Relação conturbada 

Nos quatro anos em que viveram juntos, os familiares e vizinhos presenciaram discussões do casal. As mais violentas aconteciam quando os dois estavam bêbados. Os relatos também foram repassados ao delegado responsável pelo inquérito, Anderson Veiga. Não temos os motivos e razões [do feminicídio], mas em diligências preliminares tomamos conhecimento de que as brigas entre o casal eram constantes, inclusive com atendimentos feitos pela Polícia Militar de agressões mútuas. Faremos o levantamento dos boletins de ocorrência registradas em nome de um e de outro”.

João chora ao lembrar do último final de semana com a mãe. Mesmo com a “correria da vida”, como adianta, conseguiu passar o Natal com Genésia neste domingo (25). Ele diz não ter presenciado brigas do casal e afirma que a mãe estava muito feliz.

“Ela insistiu muito para reunir a família toda, parece que estava sentindo que alguma coisa ia acontecer. Todo mundo já é casado, trabalha… mas consegui vir. É difícil, fiz uma promessa de que quando meu filho nascesse ia trazer para ela. É meu primeiro filho, minha mulher estava de nove meses. Ela estava muito feliz, ela queria conhecer, deixei até umas roupinhas com ela”.

João trabalha como caseiro em uma fazenda na região da Capela do Piçarrão e estava lidando com o chiqueiro quando recebeu a ligação de uma vizinha. A mulher contou ao jovem que Genésia não estava se mexendo e que o marido havia saído de bicicleta. O jovem sequer teve tempo para trocar de roupa e foi à casa da mãe para checar o que havia acontecido.

O filho considera a mãe uma “trabalhadora” enquanto explica que todo final de semana ela ia para Bonsucesso, para vender os doces que fazia e conseguir o “pão de cada dia”.

“Ela era aposentada, final de semana ela fazia doces, brigadeiro e beijinho, ia todo final de semana para Bonsucesso para trazer o pão de cada dia para casa. Ela era trabalhadora. A prova tá na cozinha dela, tá tudo lá”.A filha de Genésia, que tem síndrome de Down, estava na casa no momento do feminicídio. Sentada em uma cadeira de fio perto do local, ela recebeu acolhimento de vizinhos e familiares. João lamenta que a irmã tenha presenciado o crime e conta que ela está em choque.

Enteado pode responder por homicídio 

De acordo com o delegado, preliminarmente ainda não há indícios suficientes para determinar a autoria definitiva da tentativa de homicídio contra Leodir.

“Então, até o momento há uma tentativa de homicídio também a ser apurado. Conforme o desfecho da cirurgia que está se submetendo, possivelmente pode ocorrer também outro homicídio”.

Veiga também explicou que o crime foi cometido com uma espingarda de pressão modificada. No entanto, a arma do crime ainda será periciada.

“Aparentemente uma espingarda de pressão, não é uma espingarda de pressão qualquer, possivelmente foi modificada. Foi encontrado apenas um orifício na região torácica do lado de esquerdo. Aguardaremos o desfecho para novas deliberações”.

FONTE:OLHAR DIRETO.

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