BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal ouve ao mesmo tempo nesta quinta-feira (31) Jair Bolsonaro (PL), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, três assessores de confiança, um general e dois advogados do ex-presidente.
Além do casal Bolsonaro, prestam depoimento simultaneamente Mauro Cid e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, os assessores Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara, e os advogados Frederick Wassef e Fabio Wajngarten.
Todos são citados na investigação dentro do inquérito das milícias digitais sobre suposto desvio, venda, recompra e devolução de presentes de alto valor recebidos por Bolsonaro de autoridades estrangeiras.
Os depoimentos simultâneos têm sido justificados para evitar a criação de um padrão de respostas e versões dos investigados. O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), chegou a proibir a comunicação entre eles como forma de evitar um possível ajuste de versão.
Entre os presentes, há joias e relógios negociados nos Estados Unidos, segundo a PF. Depois, os objetos teriam sido alvo de uma “operação resgate” orquestrada por Mauro Cid e pessoas próximas ao ex-presidente.
Bolsonaro é o principal alvo da investigação o caso das joias coloca pela primeira vez o ex-presidente na cena de um suposto crime de desvio de dinheiro público.
O uso de uma aeronave da Força Aérea Brasileira para levar as joias e presentes aos Estados Unidos e as mensagens indicando o retorno do dinheiro oriundo de vendas para o bolso do ex-mandatário são até agora as principais informações reveladas pelos investigadores.
Bolsonaro deverá ser questionado sobre até que ponto participou da operação e quanto lucrou com a negociação das joias e presentes. A defesa tem negado as irregularidades e colocou o sigilo bancário do ex-mandatário à disposição do STF após Moraes ter autorizado o levantamento dos dados.
Um dos argumentos utilizados por seus defensores é o de que os presentes eram itens personalíssimos quando recebidos e, portanto, não haveria irregularidade numa suposta venda.
Para a PF, Bolsonaro utilizou a estrutura do governo federal para desviar presentes de alto valor e isso resultou em enriquecimento ilícito.
Assim como ele, Michelle Bolsonaro também teve pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário autorizado por Moraes.
O nome da ex-primeira-dama aparece em conversas dos assessores de Bolsonaro no período entre a ida para os EUA, em 30 de dezembro de 2022, até a realização da operação resgate, em março após o caso das joias apreendidas no aeroporto de Guarulhos tomar o noticiário.
Mensagens mostram que Cid e Marcelo Câmara citam em uma conversa que um presente da “Dona Michelle” havia desaparecido, demonstrando preocupação durante a tentativa de reaver as joias.
Cid, assim como nas transações suspeitas no gabinete da Presidência, que também tem Michelle como alvo, é o principal personagem da trama investigada.
São as conversas encontradas em seu celular que guiaram a PF até os pormenores da tentativa de venda e recuperação dos presentes assim como na fraude do cartão de vacinação e outras investigações em andamento.
O ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro está preso e, segundo seu advogado, pode confessar ter vendido e recuperado os presentes a pedido do ex-presidente. Ele aparece em todos os momentos do inquérito desde a saída dos presentes do Brasil, a chegada nos EUA e translado para lojas e, após o surgimento do tema na mídia, a operação para resgatá-los.
Além de confirmar a mando de quem organizou as negociações de venda e recompra, Cid poderá indicar o valor arrecadado nas negociações e onde esse dinheiro foi parar.
O principal indício citado por Moraes para indicar possível enriquecimento de Bolsonaro com as vendas dos presentes é uma conversa do tenente-coronel com seu pai, Lourena Cid.
A PF descreve no pedido de busca contra o general um áudio em que Cid relata, em 18 de janeiro, a existência de US$ 25 mil (cerca de R$ 122 mil) em posse de seu pai, “possivelmente pertencentes a Jair Bolsonaro”.
Os companheiros de Cid na Ajudância de Ordens, Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara, e os advogados de Bolsonaro, Frederick Wassef e Fabio Wajngarten, aparecem nas mensagens durante a operação resgate detalhada pela PF em seu relatório.
Sobre eles, também interessa aos investigadores saber a mando de quem atuaram para tentar reaver os presentes.
Wassef, responsável por recomprar e trazer ao Brasil o Rolex Day-Date, disse desconhecer o tema em um primeiro momento, mas dias depois mudou a versão e assumiu ter comprado o relógio. Ele isentou Bolsonaro e Cid de participação nos fatos.
Já Wajngarten, que foi secretário de Comunicação de Bolsonaro, não aparece atuando diretamente, mas em mensagens cobrando que o ex-presidente se antecipasse à decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) e entregasse os presentes recebidos.
O ex-chefe da Secom também critica nas mensagens a atuação de Wassef e Câmara para conseguir reaver e devolver os bens solicitados pelo Tribunal.