As discussões acerca do fim da jornada de trabalho 6×1 no Brasil

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Crédito: Alvarez/ iStock
ALMT TRANSPARENCIA

Proposta de fim da jornada 6×1 ganha força com PEC que sugere escala 4×3

O modelo de jornada 6×1, em que o trabalhador atua por seis dias consecutivos e descansa no sétimo, voltou ao centro do debate público. A proposta de mudança, que inclui a transição para a escala 4×3 (quatro dias de trabalho seguidos de três de descanso), tem gerado repercussões nas redes sociais, no Congresso Nacional e entre especialistas em mercado de trabalho.

A discussão foi reacendida pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pela Deputada Federal Erika Hilton. A PEC visa extinguir o regime 6×1, vigente há mais de 35 anos no Brasil e respaldado pela Constituição e pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No regime atual, o limite é de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Contudo, outros arranjos, como a jornada 12×36 (12 horas de trabalho seguidas de 36 horas de descanso), também são previstos por lei.

A deputada, apoiada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), defende a escala 4×3 como alternativa para promover maior qualidade de vida aos trabalhadores. Desde 2023, o movimento encabeça o abaixo-assinado virtual “Por um Brasil que Vai Além do Trabalho”, que já reúne mais de 1,3 milhão de assinaturas.

O modelo 4×3 em teste no Brasil

O modelo 4×3 já está sendo testado no país por meio do projeto “4 Day Week Brazil”, monitorado pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Boston College. Dados da revista Exame revelam benefícios significativos da redução dos dias trabalhados:

  • Redução de estresse em 62,7% dos trabalhadores;

  • Maioria (64,9%) não se sente desgastada ao final do dia;

  • Diminuição de desgaste emocional em 49,3% e de exaustão em 64,5%;

  • Melhora na capacidade de cumprir prazos (44,4%) e na conciliação entre vida pessoal e profissional (57,9%);

  • Redução de insônia em 50% e de ansiedade semanal em 67%.

Segundo os participantes, a mudança impactou positivamente a saúde mental e física, além de aumentar a satisfação no ambiente de trabalho.

Tendência mundial e desafios locais

A proposta de Erika Hilton acompanha uma tendência global que questiona a relação entre produtividade e número de horas trabalhadas. Estudos recentes apontam que jornadas mais curtas podem aumentar a eficiência sem prejudicar os resultados das empresas.

Entretanto, a PEC precisa enfrentar desafios para avançar no Congresso. Para ser discutida, o texto necessita de ao menos 171 assinaturas de parlamentares; atualmente, já conta com cerca de 100, segundo a assessoria da deputada.

Além disso, a falta de flexibilidade, jornadas extensas e pressão por metas continuam sendo barreiras para trabalhadores no Brasil. Uma pesquisa do Instituto Gallup coloca o país em quarto lugar no ranking de trabalhadores com mais tristeza e raiva na América Latina, além de ser o sétimo mais estressado.

Impactos e perspectivas

Especialistas apontam que a jornada 4×3 pode representar um avanço no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, prevenindo acidentes e adoecimentos associados a condições laborais exaustivas. Carla Reita Faria Leal e Francielly Rodrigues Costa, do Grupo de Pesquisa sobre o Meio Ambiente do Trabalho (GPMAT) da UFMT, reforçam que a proposta reafirma a dignidade do trabalhador e promove alinhamento com os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.

A PEC busca mais do que alterar horários: pretende repensar o papel do trabalho na vida dos brasileiros e criar condições para uma sociedade mais saudável e produtiva. Resta saber se essa nova realidade será aprovada pelo Congresso e implementada no cotidiano dos trabalhadores.

 

 

Da redação com informações do Olhar Direto