Escolha você

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Reprodução
CAMARA VG

O ano está chegando ao fim e com ele surgem as confraternizações. É muito chato quando nos sentimos na obrigação de estar presente em algum lugar que não gostaríamos. Às vezes é necessário, mas e quando não é? Confesso estar cada vez mais deixando de lado essas convenções sociais às quais nem sempre estou disposta a ir.

Quando estamos em um processo de desconstrução, passamos a nos enxergar em primeiro plano e, para lugares e pessoas que nos deixam desconfortáveis, damos um belo de um NÃO. No começo sentimos um pouco de culpa, mas depois é libertador.

Escolher você não é um ato egoísta, mas sim de amor próprio. Escolher estar em um ambiente saudável, que te traz tranquilidade e, se afastar dos que você não se encaixa mais, é a prova de que a sua saúde mental vem primeiro. E como estamos precisando de saúde mental nos últimos anos, afinal ultimamente somos obrigadas a ver pessoas defendendo jogador que comete violência contra a mulher.

Imagina estar perto dos piadistas que acham legais comentários machistas, homofóbicos, xenofóbicos, racistas, etc. Para mim não serve esse tipo de espaço, e se você crê em algo bom, acredito que não te serve também. O colega ali metido a engraçado que para se afirmar muito hétero precisa soltar um “isso é coisa de viado”, já sabemos que devemos manter distância. O outro ali que para mostrar sua masculinidade tem que falar o quanto gosta de mulher: irritante e já presumimos que nem gosta, porque gostar é respeitar. Não deve gostar nem dele mesmo. Adoram debochar das feministas, enquanto nós estamos rindo das suas autoafirmações às quais ficamos com pena de tanta falta de segurança em si mesmo.

O relacionamento amoroso não está bom, escolha você. O ciclo de amizades parou no tempo e a cabeça não evoluiu, escolha você. O parente sem noção chegou no Natal falando do seu peso, escolha você. Saia, vá embora, e se não tiver como pois a vovó pediu encarecidamente para você ficar, finja que o parente é um cone e ignore sua existência. Mas peço, por favor, escolha sempre você. Escolha estar bem, ficar bem.

Eu desejo para as mulheres que o novo ano delas seja recheado de escolhas próprias. Desejo que a sua liberdade chegue e que seja respeitada. Desejo que aprenda a dizer mais não e que esteja somente onde quiser estar.

 

Michelle Leite de Barros é advogada, servidora pública e mestranda em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT.

 

Fonte: Gazeta Digital

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