Todo mundo está de olho no voto dos evangélicos, mas alguém se importa de verdade com eles?

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CAMARA VG

Os pré-candidatos à Presidência da República entenderam que os evangélicos são capazes de decidir uma eleição no Brasil. Estão todos agitados. A ordem é procurar os evangélicos em busca de seus votos sagrados. E por incrível que parece, todos os pré-candidatos confessam admiração por esse povo religioso. Até Luiz Inácio da Silva, o esperto, anda repleto de amor para dar aos evangélicos. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu no Palácio da Alvorada, onde mora, com mais de 20 pastores e outras lideranças cristãs para uma longa conversa de mais de duas horas. Bolsonaro disse: “Eu dirijo a nação para o lado que os senhores o desejarem”. Não é brincadeira. O presidente ainda afirmou que não será fácil, mas que, com os evangélicos, haverá força para fazer o melhor para a pátria. A maior parte dos líderes religiosos interpretou as palavras como um chamamento, uma convocação.

Luiz Inácio da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB) estão nessa mesma levada. As equipes de cada um deles estão traçando a melhor estratégia para se aproximar dos evangélicos. Por motivo religioso não é, evidentemente. O importante é o voto. As pesquisas revelam a força do segmento nas eleições de outubro. De acordo com levantamento feito pelo G1, no segundo turno de 2018 Bolsonaro recebeu 11,6 milhões de votos de eleitores evangélicos, muito mais que o candidato menino maluquinho Fernando Haddad. Isso decidiu a eleição e Bolsonaro venceu. Conforme informa o professor aposentado da Escola de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustáquio Diniz Alves, na eleição de 2018 houve uma divisão de cerca de 50% dos votos os católicos para Haddad e outros 50% para Bolsonaro. Com os votos dos evangélicos, Bolsonaro conseguiu compensar a baixa votação em algumas regiões.

Mas tudo indica que, desta vez, o fiel da balança da votação será o eleitorado católico. A situação mudou. Lula tem mais preferência dos católicos que Bolsonaro. E mais: o petista, preso por corrupção e solto por um golpe do Supremo Tribunal Federal (STF), está tecnicamente empatado com Bolsonaro entre os eleitores evangélicos. Significa que a maioria dos evangélicos não aprovou a postura de Bolsonaro diante dos grandes problemas nacionais, principalmente a pandemia. Neste domingo, 13, a doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Carolina de Paula, afirmou que, na eleição de outubro deste ano, os rumos da economia serão mais importantes na decisão, não a pauta de costumes defendida por Bolsonaro em 2018. Seja como for, os pré-candidatos terão de melhor compreender o eleitorado evangélico.

Desta vez a defesa da família e dos costumes não vai funcionar. Já Ciro Gomes tem se reunido com lideranças evangélicas de todo o país, em companhia do pastor Alexandre Gonçalves, presidente nacional dos Cristãos Trabalhistas. O governador João Doria ainda está estudando uma estratégia para se aproximar dos evangélicos, de acordo com o presidente do Núcleo de Base Inter-Religioso do PSDB em São Paulo, pastor Luciano Luna. Sergio Moro também está se movimentando, seguindo orientação do ex-presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos, Uziel Santana. Moro quer se aproximar, mas de outra maneira. Santana diz que “os religiosos evangélicos não serão tratados como gado”. É um recado geral e pertinente. A verdade é que os pré-candidatos veem o povo evangélico apenas como um voto a somar. Mais nada. Estão todos indo ao pote como muita sede. Mas essa água está bem diferente daquela de 2018.

Fonte: Jovem Pan

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