Democracia e momento nacional

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Reprodução
CAMARA VG

Na semana passada apareceu um documento de 93 páginas, Projeto de Nação, o Brasil em 2035. Nasceu no Instituto Vilas Boas, ligado à área militar do país.

Diferente de anos atrás, segundo o documento, o inimigo não seria o comunismo, mas o globalísmo. Que é um movimento da elite financeira mundial para controlar países e pessoas, como se fosse algo socialmente bom. Esse domínio se daria através de órgãos de fora, como ONU e ONGs. Paranoia pura.

Tem muitos itens elencados, mas dois chamaram a atenção. Quem ganha acima de três salários mínimos pagaria pelo atendimento no SUS. Na educação, seja no ensino básico ou universitário público, seria montado um novo currículo, para se criar esse novo Brasil para 2035. Tirariam um currículo que não querem e criariam um de como veem o mundo.

Mas, no caso, onde fica a liberdade de cátedra e pensamento definidos até na Constituição. Para chegar onde se imagina, quebrariam regras democráticas?

O projeto mostra que querem estar no poder, com Bolsonaro ou outros nomes, para  mudarem coisas no Brasil. A proposta parecia que iria provocar muita celeuma, mas não foi bem assim. Desapareceu das conversas e da mídia de maneira até rápida.

Mas ficou aquele zumbido no ar em certos círculos. Será que os militares chegariam a usar a força para tentar impor um plano desses? Não aceitariam resultados de eleições?

Pode este articulista até ser chamado de inocente, mas não creio que haja condições de uma ação maior antidemocrática no país ou, o nome mais comum, um golpe militar. Ah, mas no passado fizeram. O mundo e o momento nacional eram outros.

Estávamos em plena Guerra Fria: EUA de um lado e União Soviética do outro. O mundo estava dividido entre dois blocos ideológicos. Os EUA, com receio de que a América Latina tendesse para o lado soviético, fez o diabo na região. Incentivou e ajudou, mostram documentos históricos, países da região a terem governos autoritários ou ditatoriais.

Apareceram ditaduras no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, em toda América Central e Caribe. Tudo com apoio norte americano.

O Brasil estava politicamente complicado desde que o fujão Jânio Quadros abandonou o governo. Aquela renúncia foi a base de tudo que viria a acontecer. Assumiu o vice, João Goulart, que não tinha suporte politico necessário para enfrentar o momento.

Numa propagada massiva, montada e paga pelos EUA, como foi provado mais tarde em documentos, criou-se um clima de instabilidade ou pânico de que o comunismo estava chegando. Derrubaram o fraco governo o Goulart.

Qual clima politico, nacional ou internacional, tem hoje para uma quebra da ordem democrática como foi em 1964? A maioria dos brasileiros apoiaria uma aventura dessas? Também a elite empresarial ou a maior parte da mídia, como ocorreu no golpe de 1964?  Como se manter no poder num contexto nacional e mundial completamente diferente de 1964? Viraríamos uma Venezuela da direita? Os EUA, como antes, apoiariam?

Os golpistas teriam que enfrentar um forte mau humor interno e externo. Como manteriam o poder?

Alfredo da Mota Menezes é analista político.

Fonte: Midia News

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