violência obstétrica no Hospital Regional de Sorriso (a 420 km de Cuiabá), em publicação do Diário Oficial que circulou nesta terça-feira (21).
O marido de Valéria de Mello, de 17 anos, contou que a jovem procurou a unidade de saúde três vezes entre 1º e 5 junho, quando finalmente deu à luz. Ronaldo Francisco explicou que a mulher não tinha dilatação suficiente para o parto normal.
A investigação foi instaurada após a denúncia do casal ser publicada no Olhar Direto, no domingo (19). A Pasta determinou que uma comisão presidida pelo auditor geral do SUS de Mato Grosso, Roziney Peixoto, fique responsável pelo procedimento.
Além dele, um médico e uma enfermeira da SES também fazem parte da comissão que vai investigar a denúncia de violência obstétrica. O objetivo é identificar os envolvidos e a gradação das respectivas responsabilidades.
“A Comissão de Sindicância exercerá suas atividades com independência e imparcialidade, assegurado o sigilo necessário a elucidação dos fatos ou exigido pelo interesse da administração, nos termos do Art. 177 da LC 04/1990, sendo-lhes facultadas todas as prerrogativas previstas nos art. 180 a 193 da Lei Complementar nº. 04/1990”, diz a publicação.
Parto traumático
Como o casal mora no distrito de Entre Rios, em Nova Ubiratã, Valéria fez uma viagem de aproximadamente 200 km para conseguir chegar no Hospital Regional de Saúde. Com fortes dores, ela foi orientada a voltar para casa, já que a dilatação não permitia o parto normal.
Por conta disso, ela ficou em uma casa de apoio de Sorriso até a bolsa estourar, em 4 de junho, quando voltou a unidade de saúde pela terceira vez com muitas dores.
“Falavam com tom de deboche: ‘você tem que ficar quieta, não pode fazer piseiro, na hora de fazer estava bom, então agora aguenta a pressão’. Poxa, uma mãe passando pelo parto, como alguém vai ficar quieto nessa ocasião? Acho que a enfermeira não está ali para isso”, contou.
Valéria passou a noite no Hospital Regional de Sorriso aguardando pela cesárea. Por volta de 5h, em 5 junho, uma enfermeira foi checar os batimentos cardíacos do bebê, que já estavam fracos pela demora do parto, contou Ronaldo.
“O coração já estava parando, já estava passando a hora do nascimento, mas minha esposa não tinha dilatação, ela precisava de uma cesárea. Se os médicos estivessem acompanhando o caso dela de forma justa, ela não teria passado por tudo que passou”.
Por conta das fortes dores e por estar sozinha no local do parto, já que a mãe dela não recebeu permissão para acompanhar a cirurgia, a jovem entrou em desespero.
Valéria se lembra de ter pedido para segurar as mãos de uma das enfermeiras, mas não recebeu o acolhimento que buscava no parto do primeiro filho.
“Minha esposa estava sozinha, pediu para segurar a mão de uma enfermeira, que olhou para ela e disse: ‘o que tenho a ver com sua dor?’. Ela entrou em desespero, em pânico, fez tanta força que estourou veias do olho, o olho está puro sangue até hoje”.
Ronaldo também relatou que, na tentativa de forçar o parto normal, a mulher passou por uma episiotomia, procedimento conhecido como “pique” que consiste em uma incisão no períneo (entre vagina e ânus), para facilitar a passagem do bebê.
“Cortaram minha esposa além do limite, não foi um pique. Em vez de fazer uma cesárea, forçaram o parto do meu filho. Minha esposa não está bem. Se ela tivesse morrido naquele parto, quem ia saber de todo esse sofrimento que ela passou?”.
Desde o dia do parto, Valéria desenvolveu sintomas de depressão, contou o marido. Além de ainda sofrer com dores físicas causadas pela truculência do atendimento médico.
O filho do casal nasceu às 6h53, em 5 de junho, e, por conta da demora ,Ronaldo contou que Victor Valentim nasceu com a pele e a cabeça roxa. Atualmente, a criança está bem enão tem sequelas do parto.