Caciques de 14 aldeias da etnia Xavante realizaram uma manifestação, nesta quinta-feira (08.09), contra a demissão de servidores que atuam no posto de saúde que atende mais de 1.300 indígenas. No ato, eles também reclamam da falta de medicamentos básicos. As denúncias envolvem a chefia do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante e também há relatos de perseguição e assédio à profissionais da saúde, contra o coordenador de Barra do Garças Romildo Ribeiro Parreira.
Na aldeia de Maraiwatsédé há um posto de saúde para atender 1.300 indígenas de 14 aldeias. As equipes são formadas por enfermeiras, técnicas de enfermagem e dentistas e as escalas são de 15 dias. Os profissionais são contratados por meio de processo seletivo da empresa terceirizada Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), com sede no estado de São Paulo.
Segundo os caciques, há mais seis meses não há médico nos plantões e faltam medicamentos básicos como dipirona, paracetamol e ibuprofeno. Mesmo com as solicitações de urgência para o envio dos remédios, a quantidade distribuída não é suficiente.
Em vídeos que registraram a manifestação dos caciques, eles mostram os armários do posto de saúde vazios e cobram que a coordenação do Distrito Indígena de Barra do Garças suspenda o ato de remoção e a demissão de alguns dos profissionais que atendem as famílias das 14 aldeias há mais de 10 anos.
“Nossa reivindicação precisa ser atendida e respeitada. Queremos que a técnica Lázara Jussara retorne para o trabalho, junto com o Gabriel no plantão. Isso é nosso pedido com urgência. Nossa comunidade e 14 aldeias pede isso. Nossa enfermeira Cheila Maria foi demitida por que? Não vamos aceitar, queremos que cancele a demissão dela”, protestaram os caciques que afirmam não aceitar outros profissionais.
Parte dos profissionais que atendiam na aldeia foram transferidos para outras unidades de saúde e alguns demitidos. Em julho, deste ano, os caciques já haviam solicitado que não fosse realizada a troca das equipes. Na época, o coordenador Romildo Parreira oficiou os líderes indígenas informando que as mudanças estariam relacionadas a casos de favorecimento e nepotismo.
Além da falta de medicamentos e mudanças dos profissionais da saúde, Romildo foi alvo de denúncia no Ministério Público. Conforme a notícia de fato, ele teria chamado uma assistente social para dormir com ele durante uma viagem de trabalho. “Já que é assim por que você não dorme comigo?”, teria dito o coordenador à servidora.
Um dos servidores que ficou vinculado ao Distrito afirmou que a situação se agravou. “O DSEI Xavante está um caos. O que estão fazendo com os Xavante é desumano, faltam medicamentos básicos e a forma como estão nos tratando, nós que estamos ali lutando pela saúde dos indígenas, é desumano”, relatou.
Outro lado
A coordenação em substituição do DSEI Xavante, foi questionada sobre a reivindicação dos caciques e as demais denúncias e informou que todas as solicitações da imprensa devem ser feitas via Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), em Brasília.
O coordenador afastado Romildo Parreira também foi procurado. Ele disse que está de férias e negou as acusações de assédio, que segundo ele já teriam sido arquivadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Ele contou ainda que o DSEI Xavante atende 25 mil indígenas de 360 aldeias e algumas mudanças de servidores são feitas por pedido dos próprios caciques.
“Com relação a isso aí o MPF já arquivou, porque não tem provas e jamais esse fato aconteceu. Com relação aos servidores que são desligados é um caso isolado, onde funcionários prestam serviço pela empresa, não cumprem horário, não atendem na hora certa. A própria liderança que solicitou a substituição. Tem que ver as outras demandas também, só em Campinápolis são 10 mil indígenas”, afirmou Romildo.
Até a publicação deste material a SESAI e o Ministério da Saúde não se posicionaram sobre as reivindicações dos caciques e as denúncias contra o servidor.
Descaso com a saúde indígena
Essa não é a primeira vez que caciques das aldeias da Terra Indígena de Maraiwatsédé fazem apelo para garantir melhor assistência à saúde.
Em maio deste ano as lideranças indígenas já buscavam chamar a atenção das autoridades para a escassez de remédios no posto de saúde que atende as aldeias, principalmente para os casos de pacientes diabéticos.
FONTE:REPÒRTER MT