A eleição no 1º turno em Mato Grosso ficou marcada pela omissão, esquecimento ou falta de interesse da grande maioria dos candidatos, proporcionais e majoritários, no debate mais aprofundado de grandes temas que interessam a sociedade. Entre estes temas solenemente desprezados está o destino dos rios de Mato Grosso.
Os rios refletem como espelhos a condição ambiental das cidades e das suas bacias hidrográficas. Se estão contaminados, fétidos e com águas impróprias para o uso é porque as políticas públicas de habitação, saneamento, meio ambiente e uso do solo não estão sendo devidamente executadas.
Além da poluição, a questão da construção de mini usinas, as chamadas PCHs, nos rios de Mato Grosso é um tema delicado e que precisa ser discutido com mais transparência, dando a ver de modo mais claro os interesses em disputa. No contraponto às explicações interessadas apenas nos negócios, são necessários mais estudos ambientais independentes e maior participação da sociedade organizada.
“A questão precisa ser vista não só pela economia, pela produção, mas também pelas condições ambientais e culturais”
A questão precisa ser vista não só pela economia, pela produção, mas também pelas condições ambientais e culturais. O que os rios Cuiabá, Araguaia, Guaporé, Paraguai e Teles Pires, entre outros, representam enquanto modo de vida do mato-grossense; para o desenvolvimento da indústria do Turismo e pela imagem internacional que Mato Grosso deve cultivar? Essa é uma pergunta central a mover a discussão de interesse público e a pautar as ações governamentais e parlamentares.
A condição geográfica única de Mato Grosso é um trunfo e não pode estar submetida à lógica da ganância da exploração criminosa, de ganhar dinheiro a qualquer custo, inclusive ambiental. Uma lógica perigosa de uns ganham e se não houver um controle todos perdemos com a degradação dos nossos rios.
Mato Grosso divide as suas águas em três bacias hidrográficas: Bacia Amazônica, Bacia Platina e Bacia do Tocantins. É um estado privilegiado em termos de biodiversidade. É o único do Brasil a ter, sozinho, três biomas, Cerrado, Pantanal e Amazônia. É muito poder para pouca discussão política.
A nova quadra política deve prestar contas a que veio. Se na campanha eleitoral a questão dos rios de Mato Grosso foi negligenciada pela maioria dos candidatos, agora os novos eleitos devem apresentar já suas posições claras, seus interesses pessoais e ideológicos. Tem compromissos com essa riqueza e com as formas de desenvolvimento sustentável ou defenderão a lógica do vale tudo pelo lucro imediato?
Mato Grosso é, além da soja, algodão, gado, um estado rico pela sua potência ambiental. Os rios fazem parte deste patrimônio. Uma riqueza frágil que precisa ser tratada com a devida competência e guiada pelo interesse público.
FONTE:PNB ONLINE