Autoridades e especialistas alertam para situação das mulheres na guerra na Ucrânia

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Reprodução
CAMARA VG

Dia Internacional da Mulher foi instituído em 8 de março de 1909, data em que 15 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova Iorque, nos Estados Unidos, por melhores condições de trabalho. Até hoje, já são 113 anos de conquistas e de reflexões sobre um mundo que se constituiu na cultura da força e da superioridade masculina. Frequentemente, alguns episódios lembram que ainda é preciso modernizar o pensamento da sociedade, que vem tentando se desconectar do machismo. Mas ele ainda está presente. “Elas olham, cara, elas olham e, eu vou te dizer, são fáceis, porque elas são pobres”. A fala é do deputado estadual Arthur Do Val (Podemos) enquanto esteve em viagem na Ucrânia. Rapidamente essa e outras declarações dele se espalharam pela internet. Mais rápido ainda o repúdio nas redes sociais. A partir dos comentários e da situação das mulheres ucranianas, em meio ao conflito com a Rússia, especialistas e autoridades fazem alertas para a situação da mulher naquele contexto.

A ex-embaixatriz da Ucrânia no Brasil, Fabiana Tronenco, ficou extremamente incomodada com o que ouviu e foi pras redes sociais desabafar. Na última segunda-feira, ela conversou com a Jovem Pan mais uma vez sobre o ocorrido. “Aquela fila não é uma fila de balada. Aquela fila é uma fila de desespero, é uma fila de agonia. Isso me causou uma profunda indignação, porque a comparação foi rasteira, foi baixa, foi grotesca, foi machista, sexista, foi foi, realmente, bárbaro”, disse.

Fabiana disse que a fala do deputado ganhou um tom ainda mais grave porque já chegou a ela relatos de mulheres ucranianas que teriam sido vítimas de abuso sexual em meio ao conflito com a Rússia. “No momento em que, realmente, as mulheres ucranianas estão sendo estupradas nas regiões que estão sendo dominadas pelos russos. Então, você imagine a barbárie que elas estão sofrendo. Quando o deputado usa palavreados de baixo calão, chulos, para falar de uma mulher ucraniana, ele está denegrindo uma nação”, criticou. A secretária geral do conselho da Europa, Marija Burić, em declaração nesta segunda ressaltou a importância da garantia de corredores humanitários seguros para mulheres e meninas ameaçadas pela violência e agressão sexual. Ela lembrou também que a convenção de Genebra de 1951 sobre o estatuto dos refugiados fala em procedimentos de acolhimento ao gênero.

Em entrevista à Jovem Pan, a professora de economia e relações internacionais da Universidade de Santa Catarina Daniele Aires relembra que um dos crimes de guerra mais antigos da história é o estupro. Mas, para além da vulnerabilidade, que não é só das mulheres mas de todo cidadão ucraniano hoje, esse conflito também nos reposiciona sobre o olhar sobre elas na guerra, não apenas como vítimas. “Temos que, cada vez mais, quando introduzimos pensamentos sobre conflitos, sobre guerra, pensar no papel da mulher, tanto como vítima, mas também como parte essencial da batalha. Nós vimos fotos ontem em que muitos dos civis que estavam sendo treinados para resistir ao exército russo eram mulheres”, comentou. Seja no front, seja onde for, onde elas desejarem estar, que sejam vistas com respeito.

Fonte: Jovem Pan

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