Ansiedade: deixe para amanhã o que não precisa fazer hoje

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CAMARA VG

Ansiedade, para mim, é pegar o celular a cada dois minutos e fazer a ronda: InstagramWhatsAppFacebook, e-mail e app de notícias. É encher o tanque do carro quando ele está pela metade e calibrar a cada abastecida. É dirigir enquanto penteia o cabelo e ainda passa batom. É estar arrumada — e suando — duas horas antes da festa. É se matricular em um grupo de meditação, ficar um minuto meditando, achar que passou uma hora, fazer a lista de supermercado na cabeça, pedir licença e levantar para anotar, pois azeitona não pode faltar. É comer pipoca com milho. É deixar a água do macarrão ferver e secar porque você resolveu tomar um banho rapidinho “para agilizar”. É achar que 30 minutos na esteira te fez perder a manhã inteira. É convidar seus amigos no seu aniversário e oscilar entre a certeza de que não vem ninguém e a certeza de que vem gente demais, pegar o carro e ir comprar o dobro de bebida e comida que, inevitavelmente, vai sobrar.

Ansiedade é roer a unha pintada de vermelho e cuspir o esmalte. É subir a escada rolante ultrapassando as pessoas. É, na dúvida, comprar três blusas iguais em cores diferentes, para o caso de não combinar com a bermuda lilás ou com a saia salmão. É chacoalhar o pé até cair a havaiana. Girar a aliança, tirar, colocar, tirar de volta e perder. Ansiedade é checar o despertador 22h30, 00h30 e 1h30, depois acordar para fazer xixi e checar de novo. É dormir com a roupa do dia seguinte. Fazer a mala para uma viagem duas semanas antes e colocar roupa para o caso de dar praia ou, quem sabe, nevar. É se hospedar ao lado do aeroporto na véspera da viagem. É criar a fila do embarque muito antes dela abrir. É chegar no teatrinho da escola com muita antecedência para pegar lugar e depois ficar esperando mais de uma hora até começar. É fazer amigos numa fila ou incitar movimentos de revolta. É não sair de casa sem o trio: Rivotril, Floral de Bach e haxixe. Tomar Zoloft, Bup ou Lexapro.

É disfarçar a ansiedade fazendo a calma. É comprar o iPhone novo na pré-venda. Ter um mini ataque de pânico vendo o cronômetro do itoken girar mais rápido do que seus dedos. É tirar a mesa do almoço e colocar a do jantar. É cortar o caminho do Waze na tentativa de chegar mais rápido. É buzinar. É fazer a caminhada matinal passeando com o cachorro e com o bebê, falando no celular e organizando mentalmente a agenda do dia. É ver “Big Brother” postando sua opinião em tempo real. Fumar dois cigarros seguidos. Falar sem respirar. Comer um pacote inteiro de Bis. É ter estoque de escova de dente. É anotar tudo o que pensa para não esquecer. Ansiedade é viver em um mundo com coronavírus. É escrever uma crônica sobre ansiedade e estar ansiosa para saber o que vocês acharam dela.

Por Bia Garbato

Fonte: Jovem Pan

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