“Deviam estar indo para algum piquenique”, diz secretário sobre morte de criminosos em confronto com o Bope

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Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto
CAMARA VG

Fonte: Olhar Direto

O secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Alexandre Bustamante, reagiu com ironia ao ser questionado sobre a possibilidade da morte de seis criminosos, em confronto com o Batalhão de Operações Especiais (Bope), ocorrido no início de agosto, em Cuiabá, ter sido na verdade uma execução: “Precisa nem explicar o que estavam fazendo todos juntos armados, em um carro blindado. Deviam estar indo para algum piquenique, né?”. O alvo da quadrilha seria a casa de um político. O fato aconteceu próximo ao condomínio Belvedere.

Segundo Bustamante, tudo está em fase de investigação e todos os órgãos estão acompanhando de forma séria. Segundo ele, a realidade é que o advogado está fazendo as alegações que são pertinentes a ele e a Justiça julgará o que é correto. Ele ainda declarou confiar plenamente na competência dos profissionais.

“Ali não tinha nenhuma criança. Precisa nem explicar o que estavam fazendo todos juntos armados, em um carro blindado, deviam estar indo para algum piquenique, né? O pessoal do Bope vai se defender e explicar o que aconteceu”, finalizou o secretário sobre o assunto.

Execução?

O experiente advogado criminalista Waldir Caldas defende Geovane Ferreira Sodré e Rogério da Cruz Liberatori. Ambos são sobreviventes da ação em que policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que acabou matando seis homens que estavam indo cometer um crime de roubo a uma chácara na região do bairro Jardim Itamaraty, nas proximidades do Belvedere, em Cuiabá.

Segundo o advogado, os dois estavam dentro dos carros que foram crivados de balas. Eles atestam que não houve confronto algum com os policiais. Por conta disso, Caldas encaminhou seus clientes para iniciar uma notícia crime junto ao Ministério Público. Lá foram atendidos pelo promotor do Núcleo de Defesa da Vida, Samuel Frungilo.

Ao Olhar Direto, Caldas comentou que nesse momento não quer fazer julgamentos da ação, mas que busca apenas que a Polícia Civil faça seu papel de investigação e investigue até onde houve excesso por parte dos policiais militares.

O crime “sem troca de tiros”

Waldir Caldas questiona o motivo de a polícia ter dito aos órgãos de imprensa que houve uma troca de tiros naquela madrugada de 29 de julho deste ano. Para o advogado, não teve tempo de ninguém trocar tiros.

“Eles iriam fazer uma situação e houve a interceptação. Não seria roubo de condomínio, como a imprensa noticiou. Nesses casos com vários criminosos, apenas um ou dois sabem o que vão fazer. Eles apenas chamam, tramam a situação via mensagem e vão. Esses condomínios são muito bem policiados, não teria como entrar e fazer um roubo lá”, explicou o advogado.

“Eles estavam andando de carro há um certo tempo e quando chegaram lá choveu bala. Não houve tempo de disparo. Eles entraram na rua e o tempo fechou de bala pra cima deles”, disse o jurista, rechaçando a tese de troca de tiros.

Na ação, seis foram mortos. Entre eles estavam um policial militar e o filho de um sargento. Na notícia crime formulada ao Ministério Público, Geovane e Rogério disseram que o ato (sem citar se seria roubo, sequestro, furto, homicídio) aconteceria em uma chácara nas proximidades do bairro Itamaraty.

Os policiais do Bope já estavam na busca pelos criminosos desde o início daquela madrugada. A informação era de que dois carros com homens armados estariam planejando um roubo em Cuiabá. O grupo passou a ser monitorado até encontrar os policiais numa estrada vicinal próximo ao condomínio Belvedere, no bairro Jardim Imperial.

Terceiro carro

O advogado Waldir Caldas ainda relatou ao Olhar Direto que os criminosos estariam em nove pessoas dentro de três veículos. Porém, o que intriga a defesa é que os carros andavam enfileirados e o primeiro passou e os dois últimos foram crivados de bala.

“Tem um terceiro carro. Poucos sabiam disso. Nesse carro tinha uma pessoa sozinha. Ela passou e os dois carros que estavam atrás foram crivados de bala. Isso mostra que foi uma execução sumária. Esse primeiro carro foi poupado. Ou essa pessoa seria um informante ou seria um policial disfarçado que acabou ‘passando a fita’. Tudo isso precisa ser evidenciado”, contou.

O advogado ainda disse que os meandros da informação seguirão a parte da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Porém, ele volta a afirmar que seus clientes contestam a informação de que houve troca de tiros. E ainda cita um exemplo óbvio para quem está em um carro blindado.

“O Rogério e o Geovane, assim como outros três estavam no Corolla blindado. A parte mais frágil de um carro é o vidro. O carro que eles estavam estava blindado. Quem em sã consciência vai abaixar o vidro, que é a proteção, e atirar nos policiais? Não tem lógica para isso. Os policiais chegaram atirando e matando. Ali eles foram policiais, promotores, juízes e coveiros. Eles prenderam, julgaram e condenaram a morte. Esse não é o papel da polícia”, comentou o advogado.

Mortos

Conforme o Olhar Direto já havia adiantado, o policial militar Oacy da Silva Taques e Leonardo Vinícius de Moraes Alves, filho de um sargento da PM estão entre os mortos no confronto. Também morreram Gabriel de Paula Bueno, Jhon Dewyd Bonifácio de Lima, André Felipe de Oliveira Silva e William Diego Ribeiro Morais.

De acordo com a Polícia Militar, os seis homens estavam em dois carros (Corolla blindado e Uno) e atiraram contra a viatura do Bope durante uma perseguição.

Ao Olhar Direto, o  tenente-coronel Ronaldo Roque da Silva, comandante do Bope, disse que os bandidos estavam sendo monitorados. No local onde os criminosos foram mortos, os PMs encontraram três revólveres e a mesma quantidade de pistolas.

No boletim, registrado na central de flagrantes da Polícia Civil, o sargento da PM, pai de um dos homens mortos, explicou que guardou a arma em seu quarto, por volta das 22h de ontem e que às 07h de hoje percebeu que a pistola não estava mais no local e nem o filho havia sido localizado.

A Polícia Militar informa que a Corregedoria Geral já instaurou Inquérito Polícia Militar (IPM) para apurar a conduta dos policiais e as circunstância do confronto. O procedimento está em tramitação.

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