Esquiador brasileiro saiu da favela para competir na Olimpíada

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Como muitos garotos no Brasil, Victor Santos, 20, sonhava com o futebol e imaginava que o esporte poderia proporcionar uma condição melhor para ele. Mas foi outra modalidade que promoveu uma mudança significativa em sua vida e o levou a representar o país em uma edição dos Jogos Olímpicos.

O jovem morador da favela de São Remo, vizinha à Cidade Universitária, Zona Oeste de São Paulo, se transformou no principal nome do país no esqui cross-country, esporte de inverno de resistência em que o atleta esquia diferentes distâncias. Sua participação nos Jogos de PyeongChang acontece nesta sexta (16), às 4h30 no horário de Brasília.

"É legal participar de uma edição dos Jogos Olímpicos, mas também aumenta a responsabilidade. Vou servir de exemplo para os mais jovens do projeto. Quero passar a eles a mesma oportunidade que tive para chegar até aqui", disse.

A trajetória de Victor começou a mudar em 2013, quando conheceu o Projeto Social Ski na Rua, idealizado por Leandro Ribela, então atleta olímpico de esqui cross-country. Ele passou a ensinar a prática do "rollerski", o famoso esqui com rodinhas, aos jovens da São Remo que passavam os dias nas ruas da Cidade Universitária, em São Paulo.

Na época, Victor tinha 16 anos, mas já fazia bicos para ajudar a família. Foi empacotador de supermercado, lavador de carros, entregador de água e flanelinha. Resolveu experimentar um esporte diferente apenas por diversão, atendendo a um convite dos seus irmãos que já participavam do projeto  -ele não saiu mais.

"É bom ver que conseguimos gerar oportunidades e dar as ferramentas para que os meninos possam atingir seus objetivos. O Victor mudou bastante do que era antes. Ele já incorporou os valores dos Jogos Olímpicos, como amizade e respeito, que tentamos explicar nas aulas", declarou Ribela, ex-atleta e atual treinador de Victor Santos.

Agora, a "criatura" se sente pronto para desbancar o "criador" do posto de melhor atleta masculino do Brasil no esqui cross-country em Jogos Olímpicos. Victor chega a PyeongChang com marcas melhores do que Leandro Ribela e tem como objetivo superar a marca de seu treinador na edição de Vancouver, em 2010.

Atualmente, Victor está entre os três melhores atletas do ranking latino-americano e tem uma média de 180.10 pontos FIS, métrica de análise do ranking de esqui cross-country que leva em conta o desempenho em cada prova do atleta -a melhor marca de Leandro, por exemplo, foi 205.37 pontos. Além disso, ele detém os recordes brasileiros das categorias adulta e júnior e é tricampeão do Circuito Brasileiro de Rollerski.

"Eu me surpreendi um pouco com minha evolução. Foi bastante rápido. Nos dois primeiros anos achei que não teria condições de brigar por uma vaga nos Jogos Olímpicos, mas nos últimos dois anos eu vi que era possível", afirmou.

O ponto de virada aconteceu em São Carlos, no interior de São Paulo, em outubro de 2015, na primeira prova oficial de rollerski na América do Sul e que valia pontos para o ranking internacional de esqui cross-country.  Victor venceu as duas corridas realizadas e percebeu que a Olimpíada não estava tão distante, afinal.

"Ali eu vi que estava competindo de igual para igual com todos os atletas", disse.

A disputa interna pela vaga olímpica foi dura e Victor só garantiu a participação nos Jogos Olímpicos no último dia do período pré-olímpico, em 22 de janeiro -outros atletas também já tinham a pontuação necessária para os Jogos Olímpicos e tentavam ultrapassar o jovem no ranking nacional. Entre eles, seu colega Lucas Martins, 16, também proveniente do Projeto Social Ski na Rua.

Tanto que a preocupação de Victor já está no próximo ciclo olímpico. "Quero seguir treinando e tentar a vaga nos próximos Jogos Olímpicos." (Folhapress)

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