Cervejeiro de MT está envolvido em escândalo de racismo contra concorrentes

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Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto
CAMARA VG

Fonte: Olhar Direto

O cervejeiro Guilherme Jorge Giorgi, proprietário da Kess Bier, de Nova Mutum (239km de Cuiabá), está envolvido em um escândalo de racismo contra concorrentes e profissionais negros do setor. A denúncia foi veiculada pela Folha de São Paulo na última quarta-feira (26), e mostra uma mensagem em que o empresário questiona: “O Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] autoriza uma cervejaria negra? Não tem que ser branca, facilmente lavável, inox, etc.?”.

O comentário de Giorgi seria sobre a cervejaria Implicantes, fundada e gerenciada por negros em Porto Alegre. Desde o início, os empresários responsáveis pela cervejaria já receberam diversos ataques. O comentário do cervejeiro mato-grossense foi feito em um grupo no WhatsApp, com integrantes de todo o Brasil, chamado “Cervejeiros Illuminati”.

Ainda segundo matéria da Folha, da repórter Paula Sterb, o grupo foi encerrado no último dia 15 de agosto, após a divulgação das mensagens racistas nas redes sociais. As páginas do Facebook e do Instagram da KessBier também saíram do ar.

O proprietário da KessBier chegou a dar seu lado para a reportagem. “Foi uma expressão imatura de minha parte, em um momento muito, muito infeliz. No entanto, a frase dita estava dentro de um contexto de discussão maior e não considero que tenha sido racista”, disse. Ele ainda afirmou que “poderia ter tido mais sensibilidade ao comentar o assunto e que foi totalmente infeliz”. “Me sinto na obrigação de me desculpar caso alguém tenha se ofendido, muito embora eu tenha feito a minha fala em um grupo fechado de discussão”, falou. Os outros envolvidos no escândalo racista não responderam à Folha.

Kessbier

A cervejaria nasceu em 2008, da curiosidade do advogado Marco Aurélio Piacentini. A cerveja, antes produzida nas panelas de sua casa, começou a ganhar projeção com seus dois sócios, José Mar Bettú e Guilherme Jorge Giorgi, em 2012. Eles passaram a investir efetivamente em 2013.

Veja a íntegra do posicionamento de Guilherme Jorge Giorgi:

Com relação ao ocorrido eu estou bem chateado, porque eu e a empresa em que trabalho com meus sócios estamos sofrendo diversos ataques devido a uma única fala minha que foi totalmente tirada de contexto.

Me arrependo? Evidente que sim. Aprendi que tem certas coisas que a gente não pode nem pensar, quanto mais falar. Mas essa situação de perseguição que estamos sofrendo, é algo inimaginável. Ser tratado como criminoso, tendo a certeza que não sou, é algo horroroso.

Após me reunir com os meus sócios, chegaram a me afastar das minhas funções na cervejaria, e por que? Porque conversas particulares em um grupo privado de Whatsapp foram tiradas de contexto e publicadas.

Éramos dezenas de conhecidos em um grupo fechado, no qual se discutia diversos assuntos, de cunho técnico a assuntos do momento, como em qualquer grupo de família ou amigos. Todos estamos passando por essa quarentena longa por conta da Pandemia, não é fácil enfrentar todas as dificuldades sozinhos, eram milhares de mensagens por dia e como é natural em qualquer debate, a conversa oscila por pontos e contrapontos. Às vezes os assuntos tratados eram espinhosos, e nem sempre os posicionamentos delicados.

No caso em questão, a discussão era sobre a Cervejaria Implicantes de Porto Alegre, RS, cervejaria essa que só tomei conhecimento naquele dia, a qual pedia financiamento público (crowdfunding), se auto intitulando de “a primeira cervejaria negra do Brasil”. A partir dessa notícia, discutiu-se, no grupo se o pleito era legítimo e se seria realmente necessária tal distinção étnica para ganhar a atenção do público. Em nenhum momento houve um ataque pessoal a ela, muito menos a afirmação de que era um ataque a concorrentes, eu estou no Mato Grosso e ela no Rio Grande do Sul.

Nesse contexto eu fiz uma única colocação, em analogia as normativas do Ministério da Agricultura quanto a estrutura física da cervejaria, que, hoje, olhando em perspectiva, considero infeliz e desnecessária. Nunca deixei de respeitar nenhum ser humano e quem me conhece sabe disso. Me arrependo de ter participado da discussão não pela discussão em si, mas porque podia ter fluído de outra forma.

Honestamente, peço desculpas se alguém se ofendeu com meu comentário, mas tenham a certeza de duas coisas: não havia, jamais a intenção de prejudicar ninguém e não eram comentários públicos direcionados a alguém.

Estou arrependido e jamais eu tive a intenção de desmerecer o esforço de qualquer pessoa, muito menos em razão de etnia, tanto que desde o vazamento dos prints editados, repensei o que ocorreu, me coloquei no lugar deles e na dor que sentem e tentei contato com a Cervejaria Implicantes, mas não obtive retorno.  No mercado cervejeiro não devemos ter distinções étnicas e ideológicas, muito menos temos outra cervejaria artesanal como concorrente, isso não condiz com a realidade, trabalhamos em prol da difusão e educação cervejeira.

Essa lição aqui aprendida eu vou levar para a vida. Nunca pensei em ofender ninguém e também estou vendo como é horrível ser julgado publicamente. Em vez de perguntar “Ei, o que aconteceu? Pode me explicar?”, as pessoas chegam cheias de ódio, só para expressar raiva, sem intenção de conversar.

De novo, peço desculpas se alguém leu a única mensagem minha no ocorrido e se sentiu ofendido, mas meu pensamento estava longe de pretender agredir ou ofender qualquer pessoa.
Lamento mesmo.

Guilherme Jorge Giorgi

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