Filho de ex-deputado mata ex-mulher e atual namorado com seis tiros e choca MT

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Foto: Reprodução
CAMARA VG

O feminicídio da advogada Thays Machado, de 44 anos, e o homicídio do seu namorado William Cesar Moreno, 30, em frente ao edifício Solar Monet, no bairro Alvorada, em janeiro deste ano, em Cuiabá, foi um dos casos emblemáticos que chocou as páginas policiais mato-grossenses e ganhou repercussão nacional.

Isso porque além do crime ter sido cometido em plena luz do dia, teve como autor o empresário Carlos Alberto Gomes Bezerra, o Carlinhos Bezerra, filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra (MDB).

A tragédia levantou discussões sobre violência doméstica e a urgente necessidade de se abordar as questões relacionadas ao controle e prevenção de crimes passionais.

No dia do fato, o casal foi até o edifício, onde mora a mãe de Thays, para deixar um veículo na garagem. Ao sair na portaria para aguardar a chegada de um veículo de transporte por aplicativo, as vítimas foram surpreendidas por Carlos Alberto, que conduzia um Renault Kwid, e passou a fazer os disparos contra a ex-mulher e William.

O crime teria sido premeditado, já que Carlinhos, como é chamado, estaria seguindo as vítimas e pressionando Thays para que reatasse o relacionamento.

Histórico de violência

Em agosto de 2020 Thays registrou um boletim de ocorrência contra o ex-namorado, após ele arrombar a porta de seu apartamento.

Conforme o documento, o suspeito teria ido até sua residência para conversarem, porque não aceitava o fim do relacionamento. Quando a vítima pediu que ele fosse embora, o homem se exaltou e quebrou a porta, conforme o B.O..

Thays namorou Carlos Alberto durante aproximadamente dois anos, chegando a morar juntos.

Um mês antes de ser morta, resolveu dar um fim no relacionamento e passou a ser ameaçada pelo empresário, que ligava para ela constantemente.

A pessoas próximas, a advogada chegou a dizer que achava que estava sendo perseguida pelo ex-marido. Ela disse ainda que ele é extremamente ciumento e agressivo.

Ela ainda confessou que Carlos Alberto chegou a arrombar a porta de sua casa e, sempre que saía, ele fazia chamada de vídeo para saber onde e com quem a mulher estava.

Após o término com Bezerra, Thays começou a se relacionar com William, que morava em São Paulo, duas semanas antes de eles serem mortos.

Na madrugada do dia do duplo homicídio, o rapaz veio para Cuiabá para se encontrar com Thays, que o buscou no aeroporto. Enquanto se dirigiam para casa, foram abordados no trânsito por Carlinhos, que estava portando uma arma de fogo.

Durante a manhã, a mulher procurou uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência contra o ex comunicando o fato. À tarde, ela e o namorado foram mortos com seis tiros por Carlos Alberto em frente ao apartamento da mãe da mulher.

Após o crime, o empresário fugiu da cena do crime, mas foi localizado na noite do mesmo dia, em uma fazenda da família em Campo Verde, onde foi preso.

GPS em carro, escutas e rotina de ex

Em entrevista à imprensa, o delegado Marcel Oliveira, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) revelou que Carlos Bezerra teria instalado um localizador no veículo de Thays quando ainda namoravam e usava um caderno para monitorar seus passos. Os objetos foram recolhidos pela polícia durante busca e apreensão na casa do assassino.

Ainda de acordo com a autoridade policial, 71 prints de localização foram encontrados no impressos na casa de Carlos Bezerra.

Muitas vezes, de acordo com Marcel, o empresário ligava para a vítima perguntando onde ela estava, a fim de confirmar se era o mesmo local informado no GPS.

“Aí, ele pegava os prints e anotava o que ela tinha feito para ver se era compatível com o que estava falando com ele no telefone”.

Ainda conforme as investigações, o assassino também monitorava o celular da vítima, checava a agenda de contatos e as ligações perdidas, e a partir disso ele criou uma lista, dividindo por cores as pessoas e o relacionamento delas com Thays.

Ele foi indiciado por homicídio qualificado, perseguição majorada, motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. Pela morte de Thays, ele responderá pela qualificadora de feminicídio.

Troca de presídio

O advogado Francisco Faiad, que faz a defesa de Carlos Alberto, afirmou que precisou entrar com um recurso para pedir que o cliente fosse trocado de presídio após ser alvo de extorsão e ameaça. O empresário estava detido na Penitenciária Central do estado (PCE) e foi transferido para o Presídio da Mata Grande, em Rondonópolis (212 km de Cuiabá).

A transferência foi determinada pelo juiz Geraldo Fidélis, da 2ª Vara de Execuções Penal, no dia 27 de janeiro.

Outro ponto motivador para pedir a transferência de Carlos Alberto, segundo o advogado, foi a falta de cela especial dentro da PCE para quem possui ensino superior.

“Lá em Rondonópolis tem o antigo CCC. Ele está em uma cela lá”, explicou.

Arrependido?

Faiad ainda disse que o assassino demonstrou arrependimento pela morte da ex-namorada e de Willian César. Segundo ele, Carlos Alberto continua repetindo que cometeu o duplo homícidio após um momento de “descontrole emocional”.

“Muito [arrependido]. Falou, inclusive, no depoimento policial e fala todos os dias quando a gente se fala no presídio. Ele fala que estava alterado, foi um problema que ele ficou alterado, que nunca foi de violência, que é um homem calmo, tranquilo e que naquele dia se alterou”, afirmou.

O empresário foi denunciado pelo Ministério Público por duplo homicídio qualificado.

“Ele foi citado sexta-feira [passada]. Então segunda-feira agora começou o prazo para defesa preliminar. Temos um prazo de dez dias para fazer essa defesa. Estamos estudando as provas que foram produzidas pela polícia para fazermos essa defesa preliminar. Essa defesa é para alegarmos alguma nulidade que tenha acontecido, pedir provas e relato de testemunhas. Então faremos isso dentro do prazo legal de dez dias”, completou.

Vai a júri popular

Em maio deste ano,  a juíza Ana Graziela Vaz de Campos, da Vara Especializada de Violência Contra a Mulher de Cuiabá, proferiu sentença de pronúncia e manteve a prisão preventiva de Carlos Alberto. A magistrada decidiu que ele deve ser submetido ao Tribunal do Júri.

A juíza ainda apontou na decisão que o crime foi cometido com extrema brutalidade contra duas vítimas que tiveram suas vidas ceifadas em via pública, em plena luz do dia. Com isso, Ana Graziela entendeu que o decreto da prisão preventiva deve ser mantido, especialmente para garantia da ordem pública.

Já em junho, a a defesa do assassinoingressou com recurso em face da decisão proferida pela juíza Ana Graziela Vaz de Campos, que acatou as qualificadoras imputadas pelo Ministério Público Estadual (MPE) e o pronunciou para ser submetido à Júri Popular pelo assassinato de Tahys e William Moreno.

O órgão ministerial, por sua vez, apresentou as contrarrazões objetivando que seja mantida a sentença de pronúncia.

No recurso, os advogados Francisco Anis Faiad e Eduardo Ubaldo Barbosa pedem à juíza o afastamento de três qualificadoras imputadas a Carlinhos nas alegações finais do MPE, relativas ao motivo torpe, meio de que possa resultar em perigo comum e utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima. Ao justificar a pretensão de afastamento sobre motivo torpe, os defensores apontaram que inconformismo com término de relacionamento não configura torpeza.

Para isso, apontaram nos autos, que, dias antes do crime, Carlinhos contratou os serviços espirituais de uma “cigana” com objetivo de reatar o seu relacionamento com a vítima Thays.

Por fim, em setembro, magistrados do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) mantiveram as qualificadoras imputadas pelo Ministério Público e  será submetido a Júri Popular com as qualificadoras do duplo homicídio.

Prisão domiciliar

Em novembro deste ano, a justiça acolheu o habeas corpus e concedeu prisão domiciliar a Carlinhos Bezerra.
A decisão é da Segunda Câmara Criminal e foi divulgada no dia 17. O voto do relator, José Zuquim Nogueira, foi seguido pelos desembargadores Pedro Sakamoto e Rui Ramos Ribeiro.

O empresário, que é filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra (MDB), deverá ficar 24 horas por dia em casa, podendo sair somente sob autorização judicial. Ele ainda terá que usar tornozeleira eletrônica.

No habeas corpus, a defesa de Carlos Alberto alegou que o réu necessita de cuidados especiais, pois é portador de diversas comorbidades físicas e transtornos psicológicos que a Penitenciária da Mata Grande, em Rondonópolis, onde ele se encontra preso, não tem condições de tratar.

O empresário é portador de diabetes mellitus 2 e hipertensão arterial. Segundo a defesa, por conta da dificuldade de tratar as comorbidades, ele teria apresentado complicações como polineuropatias, distúrbio neurovegetativo, dores generalizadas, isolamento social, compulsão alimentar e ideias autodestrutivas.

 

 

 

Fonte: Olhardireto

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