Professora relata no Senado dos EUA que foi agarrada por indicado à Suprema Corte: ‘Pensei que iria me estuprar’

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ALMT TRANSPARENCIA

A professora de psicologia Christine Blasey Ford afirmou nesta quinta-feira (27) no Senado dos Estados Unidos que o juiz Brett Kavanaugh a agarrou para tirar sua roupa à força durante uma festa, e que ela acreditou que ele tinha a intenção de estuprá-la. “[O incidente] mudou minha vida drasticamente”, declarou ao Comitê Jurídico do Senado. Na época do caso relatado, ela tinha 15 anos, e ele tinha 17.

Kavanaugh, que foi indicado pelo presidente Donald Trump para assumir uma vaga na Suprema Corte dos EUA, deve se pronunciar mais tarde diante dos senadores.

Christine, professora da Universidade de Palo Alto (Califórnia), deixou claro que não há nenhum interesse político em tornar o episódio público.

Ela reiterou o depoimento que tinha dado ao jornal "The Washington Post" em que relatou que foi alvo de um ataque de Kavanaugh e do amigo dele Mark Judge durante uma festa, no subúrbio de Maryland, no início dos anos 1980, quando ela tinha 15 anos e Kavanaugh, 17.

Segundo ela, os dois amigos estavam bêbados quando a imobilizaram. "Eu fui empurrada para a cama e Brett ficou em cima de mim. Ele começou a passar as mãos sobre o meu corpo e esfregar seu quadril em mim", afirmou.

Ela resistiu e, como ele estava bêbado e ela estava de maiô, Kavanaugh teve dificuldade para despi-la.

"Eu pensei que ele iria me estuprar", afirmou.

Christine disse que chegou a gritar para pedir ajuda, mas havia música na casa e, como estavam em um cômodo no segundo andar, não foi ouvida. Kavanaugh tampou sua boca, o que a deixou com medo de ser sufocada. "Isso foi o que mais me apavorou e teve o impacto mais duradouro em minha vida", relatou.

'Medo, vergonha'

Ela declarou ter esquecido alguns detalhes do incidente, mas afirmou ter 100% de certeza de que Kavanaugh a agrediu. A professora ainda destacou que nunca se esqueceu de que os dois rapazes pareciam ter se divertido com a experiência traumática para ela. "Eu estava debaixo de um deles, enquanto os dois riram. Dois amigos se divertindo muito um com o outro", afirmou.

"Por muito tempo, fiquei com muito medo e vergonha de contar os detalhes para alguém. Eu não queria dizer aos meus pais que eu, aos 15 anos, estava em uma casa sem nenhum pai presente, bebendo cerveja com os meninos. Eu tentei me convencer de que porque Brett não me estuprou, de que eu deveria ser capaz de seguir em frente e fingir que isso nunca aconteceu."

A professora afirmou ter procurado ajuda de um terapeuta. Ao longo dos anos, ela relatou ter enfrentado problemas acadêmicos, além de ansiedade, claustrofobia e crises de pânico.

No início da sessão, que estava lotada, a professora afirmou estar "apavorada" de falar diante dos senadores. "Acredito que seja meu dever como cidadã dizer a vocês o que aconteceu comigo, quando Brett Kavanaugh e eu estávamos no ensino médio", declarou, com a voz embargada, tentando conter as lágrimas.

Viés conservador

Kavanaugh, que ainda foi acusado por outras duas mulheres de assédio e má conduta sexual, recebeu total apoio do presidente Trump, que questiona as denúncias feitas pelas três mulheres.

Apesar do apoio de Trump, as alegações ameaçam atrapalhar a sua confirmação para substituir o juiz Anthony Kennedy, que vai se aposentar.

Os democratas pedem uma investigação independente das acusações. Embora tenham prometido investigá-lo, os republicanos não endossam a proposta de uma investigação externa.

A indicação de Kavanaugh está prevista para ser votada na sexta-feira (28) pelo Comitê Judiciário do Senado.

A chegada de Kavanaugh à Suprema Corte representa uma oportunidade de Trump de consolidar um viés conservador na Suprema Corte – instância que decide questões fundamentais para a sociedade americana.

Considerado mais conservador que o juiz que vai substituir, ele poderá mudar a posição da Suprema Corte em casos críticos que envolvem temas como casamento entre pessoas do mesmo sexo, pena de morte e prisão em solitária, ação afirmativa, leis ambientais e aborto, segundo análise do colunista do G1, Helio Gurovitz.

 

Outras denúncias

Além da professora, outras duas mulheres acusaram o juiz de assédio. Conheça as outras acusações:

Deborah Ramirez

Dias após o texto de Ford ser publicado, a revista “The New Yorker” relatou acusações separadas contra Kavanaugh por parte de uma colega da Universidade de Yale.

Deborah Ramirez, de 53 anos, afirma que Kavanaugh mostrou seus genitais a ela no começo da década de 1980 durante uma festa da faculdade, quando os dois eram calouros em Yale, aproximando suas partes íntimas do rosto dela, fazendo com que tocasse nele sem o seu consentimento enquanto o afastava.

Ramirez reconheceu que estava embriagada quando os estudantes a desafiaram durante um "drinking game", e que não lembra exatamente de tudo daquela noite. Mas tem certeza que Kavanaugh estava lá.

Ramirez passou anos trabalhando para uma organização que ajuda vítimas de violência doméstica.

Kavanaugh negou que o incidente tenha ocorrido, chamando de "uma calúnia, pura e simples". O presidente Trump também minimizou as acusações, dizendo que Ramirez estava "confusa" na festa, porque tinha bebido. Para Trump, os democratas estavam "brincando" com as acusações.

Trump disse que Kavanaugh é "extraordinário", e acrescentou: "Estou com ele até o fim".

Julie Swetnick

Na quarta-feira (26), novas acusações bombásticas foram feitas, desta vez por Julie Swetnick, que alega ter estado em várias festas do colégio que também eram frequentadas por Kavanaugh.

Em uma declaração juramentada divulgada por seu advogado, Swetnick diz que viu Kavanaugh "ter uma conduta altamente inapropriada", incluindo "acariciar e agarrar garotas sem o consentimento delas".

Swetnick indicou que foi estuprada por garotos em uma das festas nas quais “Mark Judge e Brett Kavanaugh estavam presentes".

Swetnick, que diz ter trabalhado extensivamente com várias agências do governo dos Estados Unidos ao longo de sua carreira, declarou estar à disposição para testemunhar diante do Congresso se for convocada.

Kavanaugh, em um comunicado divulgado pela Casa Branca, disse que não conhece a acusadora e que as suas acusações estão "além da imaginação".

Julie Swetnick em foto divulgada por seu advogado — Foto: Michael Avenatti/Twitter

 

Fonte: G1 Globo

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