Mataram o governador

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Reprodução
CAMARA VG

Em 1906, num confronto armado entre grupos políticos, foi morto o governador de Mato Grosso, Antonio Paes de Barros ou Totó Paes. Aproveitando agora a segunda edição do livro que publiquei, A Morte de Totó Paes – Politica no Interior do Brasil, usa-se o espaço para comentário sobre o episódio da morte do governador com palavras da própria apresentação do livro.

Totó Paes era o maior usineiro de açúcar do estado. Sua usina, Itaicy, que ainda pode ser vista às margens do rio Cuiabá, era a mais importante naquele tempo. Sua morte foi motivo de grandes debates, principalmente em Cuiabá e região. Por que se chegou àquele desfecho?

Por que o mataram ao invés de prendê-lo ou afastá-lo do governo? Qual grupo no estado ganhava com a morte do governador? Por que a força federal, mandada pelo presidente da República, não chegou a tempo para salvar o governador? 

Como estava a temperatura politica local para levar até mesmo à morte de um governador a tiros em pleno mandato? Joaquim Murtinho, cacique da politica estadual e nome nacional, participou desses acontecimentos? Ganhou ou perdeu nos diferentes embates?  Qual foi a atuação e participação de Generoso Ponce? Como e por que a força militar federal no estado participava dos acontecimentos políticos locais?

Os fatos políticos no estado, desde a proclamação da Republica, leva àquele desfecho. Os grupos políticos procuravam preencher os espaços surgidos com o novo regime. Nessa luta pelo poder, Mato Grosso passou por três momentos que muitos chamam até de “revolução”. Uma em 1892, outra em 1899 e a última, em que perdeu a vida Totó Paes, em 1906.

Fatos que ocorrem nos governos dos presidentes Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Campos Sales e Rodrigues Alves ajudam a botar fogo no paiol politico do estado. MT era um estado distante e isolado, mas acontecimentos na capital federal tinham repercussão aqui também.

Até mesmo assunto internacional, como a anexação do Acre ao Brasil, numa disputa territorial com a Bolívia, ajuda a esquentar a política regional. A distante província era partícipe de atos acontecidos no outro Brasil. Enquanto não havia o telegrafo, a hidrovia Paraguai-Paraná era o elo de Mato Grosso com o Brasil e mesmo o mundo.

A politica da época era duríssima. Pertencer a um grupo politico no poder era muito importante. Não havia muitas alternativas de empregos. Está num grupo no poder era ter oportunidade de empregos e de outros ganhos políticos.

Esses ganhos e empregos estavam ainda associados ao governo federal. Quem controlava o poder no estado tinha também os cargos públicos federais para nomear e se beneficiar do trabalho do indicado por ele.

A coisa era tão bruta que mataram um governador no mandato e que era um dos homens mais ricos de MT. O grupo que assumiu o governo mandou por cerca de 60 anos no estado. Com todas as vantagens que esse controle único deu aos donos do poder, depois do assassinato do Totó Paes.

 

Alfredo da Mota Menezes é analista político.

 

Fonte: Midia News

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