“Eu tinha confiança nele; fechou o mundo para mim”, afirma juiz

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CAMARA VG

O juiz Geraldo Fidelis, da 2ª Vara de Execuções Penais de Cuiabá, revelou que tinha em seu ex-assessor Pitágoras Pinto de Arruda – preso na manhã de hoje (25) pela Polícia Civil – uma pessoa de extrema confiança no trabalho. “Fechou o mundo para mim. É um absurdo”, disse em entrevista coletiva.

Além de Pitágoras, também foram presos o ex-golpista Marcelo Nascimento da Rocha, conhecido por "Marcelo Vip", e Márcio Batista da Silva, o "Dinho Porquinho".

O trio é alvo da "Operação Regressus”, que investiga um esquema de fraudes em processos de progressão de regime de presos, lavagem de dinheiro e desvio de recursos judiciais.

A denúncia a respeito do suposto crime de Pitágoras partiu do próprio magistrado, que disse ter ficado chateado, pois os dois trabalharam juntos por cerca de sete anos, em Cáceres e Cuiabá.

A confiança do magistrado era tamanha que o servidor tinha até sua senha do sistema. "Eu tinha uma confiança no rapaz. Sete anos de trabalho. Não são sete semanas, nem sete dias", afirmou.

“Eu vi o Pitágoras acadêmico de direito na Unemat [em Cáceres]. Vi ele se formar, estagiar no Fórum de Cáceres… Depois trabalhou comigo. Estou há cinco anos aqui [em Cuiabá]. Dois anos antes ele já trabalhava comigo lá [em Cáceres]. Então são sete anos juntos”, disse.

De acordo com o magistrado, o servidor desviou cerca de R$ 26 mil do dinheiro que seria para pagar por exames psiquiátricos, para uma conta no nome da mãe dele. Os exames custam R$ 2 mil e, segundo as investigações, ele cobrava R$ 6 mil, ficando com a diferença.

“Em março deste ano, a minha assessora Patrícia ligou me pedindo para ir urgentemente até a Vara, dizendo que tinha uma questão urgente pra resolver. E ela me recebeu com um papel na mão. Era uma liberação do bloqueio das contas para o pagamento da psiquiatra. Então ela falou: ‘Mas olha quem recebeu aqui’. E havia um nome desconhecido.  Quando fui verificar, era a mãe do Pitágoras. Isso aí fechou o mundo para mim nessa hora. Um absurdo”, contou.

Fidelis explicou que no mesmo dia procurou o secretário de Segurança Pública do Estado, Gustavo Garcia, a quem relatou o episódio. Em seguida o secretário acionou a GCCO (Gerência de Combate ao Crime Organizado).

O juiz disse que ficou mais espantado após descobrir que não era a primeira vez que o ex-assessor desviava dinheiro.

“Neste mesmo dia, eu expus esse fato à minha diretora para que ela tomasse as providências administrativas. Na mesma hora já entrei em contato com o secretário Gustavo e ele articulou a GCCO. E ainda naquele momento eu pedi para minha gestora um levantamento. No dia seguinte, fiquei sabendo que não foi só um, mas dez levantamentos ao todo que ele tinha feito. Foram totalizados R$ 26 mil. Então informei a Corregedoria”.

 

ex-assessor

O ex-assessor do juiz Geraldo Fidelis, Pitágoras Pinto

“Confesso que fiz com um olhar triste, mas necessário. Porque eu tinha uma confiança no rapaz, sete anos de trabalho, não são sete semanas, nem sete dias. E como ele fez isso? Usando senhas minhas, porque ele era uma pessoa da minha confiança. Não tem como eu trabalhar numa vara com 17 mil processos sem ter uma pessoa de confiança para a parte administrativa e burocrática. Eu tinha nele essa confiança”, lamentou.

Além dos desvios nos pagamentos que deveriam ser encaminhados para o setor de Psiquiatria, o juiz revelou que  também descobriu outro esquema em sua Vara.

“Coincidentemente, na mesma semana, fui procurado por um amigo dizendo que tinha uma denúncia séria pra fazer. Ele afirmou que tinha descoberto um esquema na minha Vara, de progressão de regime, pelo qual falsificavam documentos de estudo e de trabalho para garantir benefícios do regime fechado para o semiaberto ou do semiaberto para o de liberdade. Inclusive estavam falsificando para fazer essa progressão e que tinha um valor de R$ 15 mil cobrados de propina. Ele falou que havia pessoas infiltradas na minha Vara. Somei esse fato, com aquela situação de dezembro, que uma estagiária me falou que entregou documentos para um bacharel. E somando essas informações me liguei e procurei de novo o doutor Gustavo. Com isso escancarei essa situação”, relatou.

Midia News.

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